A COP16, que está sendo realizada na cidade de Cali, na Colômbia, conseguiu "elevar o perfil político" da biodiversidade e "equipará-lo" à importância da crise climática, disse a presidente da cúpula, Susana Muhamad, em entrevista à AFP nesta segunda-feira (28).
"Eu acho que já conseguimos um primeiro objetivo que foi elevar o perfil político da COP da biodiversidade, e equiparar o tema da biodiversidade com a importância e sua relação com a questão climática", garantiu Muhamad, que também é ministra do Ambiente da Colômbia.
As COPs sobre biodiversidade estiveram à sombra das conferências sobre o clima, apesar dos pedidos reiterados dos cientistas e da sociedade civil para liderar a luta contra essas duas crises que ameaçam o planeta e a prosperidade da humanidade.
Mas o acordo de Kunming-Montreal, que na COP15 estabeleceu um roteiro mundial para deter a destruição da natureza daqui até 2030, mudou o panorama. Um dos textos que estão sendo negociados atualmente em Cali pretende vincular os trabalhos das diferentes COPs, em particular para garantir que a luta contra o aquecimento global não se faça às custas da flora e da fauna.
A 16ª Conferência das Partes (COP16) da Convenção sobre a Diversidade Biológica da ONU atraiu a Cali (sudoeste) um número recorde de 23 mil delegados inscritos e cerca de 1.200 jornalistas, segundo os organizadores.
Na terça-feira, seis chefes de Estado e 115 ministros se juntarão à cúpula.
- 'Mais financiamento' -
Sob o lema "Paz com a Natureza", a COP16 tem a urgente tarefa de idealizar mecanismos de acompanhamento e financiamento para alcançar os 23 objetivos de proteção da natureza da ONU acordados no Canadá há dois anos.
Muhamad explicou à AFP que o Fundo Marco Mundial para a Biodiversidade (GBFF), acordado na COP15, é "operacional", mas "precisa de mais financiamento".
Para desbloquear mais fundos, "seria muito útil que os países desenvolvidos aumentassem as mensagens que mostram que vão cumprir a meta de financiamento do desenvolvimento" antes do fim da COP16, disse Muhamad.
Vários países em desenvolvimento pediram a criação de um esquema de financiamento diferente que não dependa do Fundo para o Meio Ambiente Mundial, ao qual dizem que é difícil ter acesso.
No domingo, o secretário-geral da ONU, António Guterres, havia instado os 196 signatários do convênio sobre biodiversidade a "passar das palavras aos atos" e engordar o GBFF.
A COP16 é o cenário para estimular a ainda tímida implementação do que foi acordado no Canadá, mediante uma série de decisões daqui até sexta-feira, mas as discussões estão estagnadas pelo cabo de guerra financeiro recorrente entre os países ricos e os em desenvolvimento.
Muhamad fez um chamado às partes para superar "as tensões" e não "perder a oportunidade" de chegar a acordos para assegurar a natureza antes que seja muito tarde.
"Temos todos os ingredientes da sopa e podemos tomar duas decisões: ou cozinhamos a sopa ou dizemos 'não, vamos continuar vendo se precisamos de mais ingredientes'. Eu digo que há uma oportunidade", afirmou Muhamad em uma sala de reuniões de alto nível.
Até agora, os países aportaram cerca de 250 milhões de dólares (R$ 1,42 bilhão, na cotação atual).
Os milhares de participantes da COP16, que vão de uma sala a outra sob o calor úmido e o ambiente tropical do centro de conferências, discutem sobre numerosos rumores relativos às promessas que são esperadas dos países ricos.
Embora o grosso da ajuda dos países em desenvolvimento não passe por este fundo jovem, ele tem uma importância simbólica crucial. Na COP15, os países desenvolvidos se comprometeram a destinar 20 bilhões de dólares anuais (R$ 113,9 bilhões) à biodiversidade até 2025 e 30 bilhões (R$ 170,9 bilhões) até 2030. Em 2022, o fundo dispunha de 15,4 bilhões (R$ 87,75 bilhões), segundo a OCDE.
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