Os estupros, incluindo os coletivos, estão "generalizados" no Sudão após 18 meses de guerra civil, segundo um relatório investigativo da ONU publicado nesta terça-feira, que atribui a maior parte da culpa às Forças de Apoio Rápido (FAR), um grupo paramilitar.
"A magnitude da violência sexual que testemunhamos no Sudão é assustadora", disse Mohamed Chande Othman, presidente da Missão de Investigação da ONU no Sudão, em um comunicado.
O Sudão está imerso há mais de um ano e meio em uma guerra entre o general do Exército e líder de fato, Abdel Fattah al Burhan, e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR) lideradas por seu ex-braço direito , Mohamed Hamdane.
"Já não existe um lugar seguro no Sudão", disse Chande Othman, cuja missão foi criada no final do ano passado pelo Conselho dos Direitos Humanos para documentar as violações de direitos cometidas no país desde o início do conflito, em abril de 2023.
No relatório, os investigadores da ONU acusam os dois lados de terem "cometido violações maciças dos direitos humanos e do direito humanitário internacional, muitas das quais equivalem a crimes de guerra e/ou crimes contra a humanidade", como tortura, violação, escravidão sexual e perseguição por razões étnicas e de gênero.
As FAR são especialmente "responsáveis pela violência sexual em grande escala nas áreas sob o seu controle", denuncia o documento, segundo o qual mulheres e meninas são raptadas para serem escravas sexuais.
"A maioria dos casos de estupro e outras formas de violência sexual documentados" no relatório são atribuídos às FAR e, na região de Darfur, aos seus aliados, as milícias Janjaweed.
No entanto, o relatório também menciona "alguns casos" em que o Exército está envolvido. Os investigadores também receberam relatos de estupros de homens e meninos.
"Sem responsabilização, o ciclo de ódio e violência continuará. Devemos acabar com a impunidade", disse Joy Ngozi Ezeilo, membro da missão.
A guerra deslocou mais de 11 milhões de pessoas, das quais quase 3 milhões fugiram para países vizinhos, segundo a Agência das Nações Unidas para os Refugiados.
"O sofrimento aumenta dia a dia, com 25 milhões de pessoas precisando de ajuda", lamentou novamente o secretário-geral da ONU, António Guterres, na segunda-feira, perante o Conselho de Segurança.
O povo sudanês vive um "pesadelo" de fome, doenças e "violência étnica intensa", especialmente em Darfur, denunciou.
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