A invasão russa da Ucrânia em 2022 provocou uma "generalização" da tortura como "meio de repressão" na Rússia, onde a prática já está "enraizada" há décadas, diz o relatório de uma especialista da ONU apresentado nesta terça-feira (29).

"Evidentemente", a repressão e a tortura "existem há 30 anos, não são um fenômeno novo na Rússia", comentou em entrevista coletiva Mariana Katzarova, relatora especial das Nações Unidas sobre a situação dos direitos humanos nesse país.

"Mas agora, depois da invasão em larga escala [da Ucrânia], se tornou uma estratégia concertada, uma ferramenta para sufocar o espaço cívico, para silenciar todos os antiguerra ou dissidentes, qualquer um que não esteja de acordo com as políticas e as autoridades russas", acrescentou.

Este novo relatório, apresentado à Assembleia Geral das Nações Unidas, conclui que a tortura se tornou uma ferramenta para a repressão "no interior [do país] e a agressão no exterior".

"São raras as vezes em que as autoridades russas têm que prestar contas. Esta impunidade contribuiu para sua 'normalização' na sociedade e a 'legitimação' de uma cultura de violência", sustenta o documento.

A relatora, cujos pedidos para visitar a Rússia não foram respondidos, descreve detalhadamente uma "ampla gama de métodos brutais" de tortura utilizados pela polícia russa, em particular para "conseguir" confissões ou para "castigar" e "humilhar" detentos nas prisões.

O documento se refere particularmente ao método de "tortura psicológica" conhecido como "Shizo" -- as "celas disciplinares individuais", nas quais são colocados em isolamento certos opositores, como foi o caso de Alexei Navalny, que morreu na prisão em fevereiro de 2024 -- e ao desterro em pavilhões psiquiátricos.

"Desde o início da mobilização [militar] parcial em setembro de 2022, os comandantes do Exército russo recorreram à tortura e aos maus-tratos contra os objetores de consciência, os combatentes alistados e os militares regulares que se negam a obedecer às ordens de lutar contra a Ucrânia", acrescenta o texto.

Concretamente, o documento se refere à existência de "pelo menos 15 locais de detenção não oficiais próximos da linha de frente, onde são mantidas centenas de pessoas que são submetidas à tortura como punição".

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