As tropas russas avançam pouco a pouco em vários pontos da frente ucraniana, em uma ocupação lenta, mas que corrói a confiança da Ucrânia em sua capacidade para reverter a situação. 

O Exército do presidente russo, Vladimir Putin, conquistou 478 km² de solo ucraniano desde o início de outubro, seu maior avanço mensal desde as primeiras semanas da guerra iniciada em fevereiro de 2022, segundo uma análise da AFP baseada em dados do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), com sede em Washington. 

"A Rússia esteve na ofensiva durante todo o ano, mas a semana passada foi uma das mais difíceis, se não a mais difícil, para as Forças Armadas ucranianas", destaca o Meduza, portal da oposição russa, banido e bloqueado por Moscou.

- Pressão constante -

Os dados do ISW não sugerem qualquer colapso militar na Ucrânia, porém "o mais preocupante é que se trata de uma tendência", destaca o ex-coronel francês e historiador de guerra Michel Goya. 

"Estamos assistindo a uma aceleração deste avanço, com a sensação de que não podemos contê-lo", acrescenta, descrevendo uma "estratégia russa de pressão em todos os lugares, o tempo todo", buscando que a linha de frente "se rompa, desmorone ou colapse". 

Moscou informa quase diariamente a ocupação de uma cidade. 

"Nenhuma localização é de extraordinária importância, mas no geral representa um sucesso significativo para o Exército russo", diz Alexander Khramchikhin, analista militar russo independente. 

"O avanço russo, embora não muito rápido, mostra a crescente deterioração (da situação) na Ucrânia", salienta.

- Poder de fogo -

Moscou mantém sua superioridade em artilharia desde 2022. Alvo de sanções econômicas ocidentais, a Rússia transformou sua economia em uma máquina de guerra com o apoio dos aliados, particularmente do Irã e da Coreia do Norte. 

"A indústria bélica russa produz mais armas do que a Ucrânia recebe", diz Khramchikhin, e "mais munições graças à sua indústria e à Coreia do Norte". 

O congelamento da ajuda dos Estados Unidos pelo Congresso diminuiu o ritmo de fornecimento aos ucranianos, enquanto "3 milhões de projéteis norte-coreanos chegaram a armazéns russos", lembrou Goya. 

Moscou desenvolveu um sistema de mísseis guiados que utiliza "aos milhares", disse Goya, citando também os 1.600 mísseis balísticos norte-coreanos KN-02 lançados contra a Ucrânia.

- Mobilização ucraniana cansada -

O avanço russo mina progressivamente o moral ucraniano. Kiev luta para recrutar soldados enquanto a desorganização e a corrupção do seu exército levam a deserções e recusas de alistamento. 

"Derrotar um inimigo é matar a esperança em sua casa. Quando o sacrifício das pessoas que morrem não tem valor, não faz mais sentido lutar", destaca Goya. 

"O governo Zelensky, confrontado com o cansaço da guerra entre a população civil, enfrenta dificuldades para mobilizar" recrutas, confirma um oficial militar francês que pediu anonimato. 

Kiev anunciou na terça-feira uma nova mobilização de 160 mil soldados, especialmente devido ao receio de um deslocamento de soldados norte-coreanos.

- Espera ocidental -

Especialistas apontam para as grandes perdas do lado russo. Para Ivan Klyszcz, do Centro Internacional de Defesa e Segurança (ICDS), da Estônia, no ritmo atual, Moscou "tomaria o restante do Donbass em vários meses, a um custo extremamente elevado, provavelmente insustentável". 

Enquanto isso, os ocidentais adiam as decisões. O "plano de vitória" de Zelensky, que supostamente o colocaria em uma posição de força para negociar, divide seus aliados, e as eleições nos Estados Unidos trazem incertezas. 

"A Ucrânia perceberá em breve que precisa de uma mudança de direção e que a dependência dos aliados ocidentais se tornará uma estratégia contraproducente em um futuro próximo", afirma Klyszcz. 

O envio de soldados norte-coreanos pode provocar um sentimento de urgência entre os ocidentais, mas "será que essa urgência se traduzirá em promessas ou em apoio reforçado? Isso ainda está para ser visto".

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