Os países mediadores preparam uma proposta de trégua curta para a Faixa de Gaza, onde o Exército israelense prossegue nesta quarta-feira (30) com a campanha de bombardeios, que deixou quase 100 mortes na terça-feira em apenas um edifício.
Catar, Egito e Estados Unidos tentam há vários meses estabelecer um acordo de trégua entre Israel e Hamas que permita a libertação dos reféns sequestrados pelo movimento islamista, a entrada de ajuda em Gaza e negociações para uma paz duradoura.
A última rodada de conversações em Doha terminou na segunda-feira com a participação do diretor do serviço de inteligência externo de Israel, David Barnea, do diretor da CIA, Bill Burns, e do primeiro-ministro do Catar, Mohamed bin Abdulrahman Al Thani.
Uma fonte que acompanha as negociações disse à AFP, sob a condição de anonimato, que as reuniões mencionaram uma trégua de "curto prazo", de "menos de um mês".
A proposta também contempla a troca de reféns israelenses por presos palestinos, além do aumento de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, acrescentou.
"Os funcionários do governo americano acreditam que, se for possível alcançar um acordo de curto prazo, isto pode levar a um entendimento mais permanente", disse a fonte.
A guerra em Gaza começou com o ataque de 7 de outubro de 2023 do Hamas contra o sul de Israel, que provocou as mortes de 1.206 pessoas, a maioria civis, segundo um levantamento da AFP baseado em dados oficiais israelenses, que inclui os reféns mortos em cativeiro.
Dos 251 sequestrados na data, 97 continuam cativos em Gaza, incluindo 34 que foram declarados mortos pelo Exército.
Em resposta ao ataque, Israel lançou uma ofensiva no território palestino que já matou mais de 43.100 palestinos, majoritariamente civis, segundo dados do Ministério da Saúde do governo do Hamas, considerados confiáveis pela ONU.
- Grave situação humanitária -
Em mais de um ano de conflito, os mediados conseguiram apenas um cessar-fogo de uma semana, em novembro de 2023.
A tentativa anterior à reunião desta semana no Catar aconteceu em agosto, quando fracassou um plano apresentado por Biden que contemplava uma trégua inicial de seis semanas.
Desde então, Israel expandiu a ofensiva para o Líbano, em uma campanha contra o movimento islamista xiita Hezbollah, e iniciou uma nova operação contra o norte de Gaza, onde, segundo o Exército, os combatentes do Hamas estariam se reagrupando.
Um bombardeio israelense na terça-feira derrubou um prédio residencial e deixou pelo menos 93 mortos em Beit Lahia, segundo a agência de Defesa Civil do território palestino.
O Departamento de Estado afirmou que o bombardeio foi um "incidente horroroso com um resultado horroroso" e um porta-voz disse que Washington pediu explicações a Israel.
O Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) da ONU afirmou que este foi apenas um dos sete incidentes com elevado número de vítimas registrado na última semana em Gaza.
A agência também alertou que "em outubro aconteceu uma distribuição muito limitada devido à grave escassez de suprimentos".
Quase 1,7 milhão de pessoas, 80% da população do território, não receberam porções de alimentos, segundo a ONU.
A situação pode ficar ainda mais grave depois que o Parlamento israelense proibiu esta semana as atividades da Agência da ONU para os Refugiados Palestinos, a espinha dorsal da ajuda que entra em Gaza.
- Alerta de saída no Líbano -
Os bombardeios israelenses prosseguiram nesta quarta-feira, tanto em Gaza como no Líbano.
O Exército de Israel emitiu nesta quarta-feira uma ordem de saída para os moradores da região de Baalbek, no leste do país, alertando que atuariam "com força contra os interesses do Hezbollah na cidade e vilarejos".
Menos de uma hora depois do alerta, a cidade estava praticamente vazia, segundo um correspondente da AFP, que observou muitos civis fugindo em pânico.
Nas imediações de Beirute, uma fonte das forças de segurança do Líbano disse que um ataque israelense contra uma caminhonete do Hezbollah repleta de munições provocou a morte do motorista.
O incêndio provocado pela explosão bloqueou a rodovia que liga Beirute a Damasco, capital da Síria, nos dois sentidos.
Israel ataca com frequência as ligações rodoviárias entre a Síria e o Líbano para interromper o fornecimento de armas e munições do Irã, principal apoio tanto do Hezbollah como do Hamas.
A agência de notícias estatal libanesa NNA também relatou um ataque terrestre israelense contra a localidade de Khiam, no sul.
O movimento islamista reivindicou o lançamento de drones contra uma base naval israelense em Haifa, norte do país.
A guerra deixou mais de 1.700 mortos no Líbano desde 23 de setembro, quando Israel iniciou a ofensiva aberta contra o Hezbollah, segundo os dados do Ministério da Saúde do país.
Também infligiu baixas significativas ao Hezbollah, que na terça-feira anunciou a nomeação de seu número dois, Naim Qassem, como novo líder do movimento e substituto de Hassan Nasrallah, que morreu em setembro em um bombardeio israelense.
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