As chuvas torrenciais que caíram na Espanha foram 12% mais intensas e duas vezes mais prováveis do que antes do aquecimento do clima, estimaram, nesta quinta-feira (31), os cientistas do World Weather Attribution (WWA), uma rede de referência, em uma primeira análise.
A rede de especialistas, que sistematizou um método científico para estimar a relação entre fenômenos meteorológicos extremos e a mudança climática, alerta, no entanto, que, dada a natureza muito recente do evento, sua "análise não é um estudo de atribuição completo e detalhado" como é habitual, "pois os cientistas não usaram modelos climáticos para simular o evento em um mundo sem aquecimento provocado pelo ser humano".
Um estudo de atribuição completo geralmente é realizado em vários dias ou semanas.
Desta vez, os cientistas do WWA se concentraram apenas na comparação entre o que ocorreu na Espanha desde terça-feira e "estudos meteorológicos históricos".
Eles examinaram dados do passado sobre as precipitações em um único dia no sul da Espanha para entender como esses eventos evoluíram desde o clima pré-industrial (1850-1900), quando a temperatura do planeta era 1,3 ºC menor do que agora.
A conclusão é que "os estudos meteorológicos históricos indicam que as precipitações em um único dia nesta região aumentam à medida que as emissões de combustíveis fósseis aquecem o clima".
Os cientistas estimam que "a mudança climática é a explicação mais provável" para a intensidade das precipitações na Espanha "já que uma atmosfera mais quente pode conter mais umidade, o que provoca chuvas mais intensas".
Estudos anteriores já estabeleceram que, com 1,3 ºC de aquecimento global, a atmosfera pode conter cerca de 9% mais umidade.
Trata-se de um "estudo parcial", comenta à AFP Sonia Seneviratne, integrante do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
"O relatório do IPCC também mostra que se espera um aumento das precipitações extremas em nível global, por isso essas conclusões são consistentes com as tendências gerais observadas", acrescentou.
Segundo uma análise do grupo Climate Central, a mudança climática fez com que as temperaturas quentes do oceano Atlântico fossem entre 50 e 300 vezes mais prováveis, adicionando umidade à atmosfera.
E o aumento das precipitações observado na Espanha é coerente com estudos anteriores de atribuição de precipitações intensas na Europa, apontou a WWA em um comunicado.
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