Em um cruzamento abarrotado de carros e sob o calor sufocante do Arizona, um grupo de republicanos faz campanha para sua candidata presidencial preferida: a democrata Kamala Harris.
A temperatura política neste estado aumenta conforme se aproxima a data das eleições presidenciais dos Estados Unidos, 5 de novembro. Uma disputa muito acirrada em que o candidato republicano, Donald Trump, não contará com o apoio de alguns republicanos de longa data.
"Estou apenas cumprindo meu dever patriótico, defendendo meu país contra alguém que tentou violar a Constituição", disse à AFP Amy Wudel, indignada com a atitude de Trump durante a invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021. "Isso o torna completamente inadequado para governar."
Alguns motoristas que passavam por este cruzamento em Mesa, um subúrbio de Phoenix, buzinavam ao ver cerca de 20 pessoas segurando cartazes onde se lia "Republicanos do Arizona por Harris".
Neste estado do oeste dos Estados Unidos, onde Trump perdeu por apenas 10.500 votos nas eleições de 2020, é surpreendente ver esses ativistas que rejeitam seu partido político.
Criada na fé mórmon, Wudel, uma professora de pilates de 47 anos, nunca suportou as afrontas do bilionário republicano. Apesar de algumas reservas em relação a questões fiscais, ela votará em Kamala Harris em novembro.
"Ela é uma advogada que respeita o Estado de Direito, enquanto ele é um criminoso", afirmou, referindo-se à condenação de Trump por tentar esconder pagamentos feitos a uma atriz pornô para comprar seu silêncio.
Nem mesmo as promessas da vice-presidente de garantir o direito ao aborto em nível nacional assustam essa mãe de quatro filhos, que se considera "pró-vida", termo utilizado pelos opositores ao aborto.
- Órfãos de John McCain -
Assim como ela, os demais manifestantes não se identificam com o candidato de seu partido, guiado pelo movimento trumpista "Make America Great Again" (Tornar os Estados Unidos Grandes Novamente).
Muitos no Arizona apoiam a rigidez fiscal dos republicanos, mas se consideram "moderados socialmente", em consonância com a figura de John McCain, ex-senador do estado e candidato republicano à presidência em 2008, que morreu de câncer há seis anos.
A derrota apertada de Trump neste estado em 2020 - a primeira no Arizona desde 1996 - se deveu, em boa medida, ao afastamento de uma parte dos republicanos da figura do magnata.
O prefeito de Mesa, o republicano John Gile, participou da convenção democrata para apoiar Kamala Harris. Gile lembra que McCain "era conhecido por dizer 'o país antes do partido'".
Ele também se irrita com os trumpistas que negam os resultados eleitorais de 2020, bloqueiam no Congresso um projeto de lei sobre imigração transparente e se opõem ao apoio militar à Ucrânia.
"Preciso lembrar aos republicanos do Arizona que sigam o exemplo do senador McCain e não sejam leais a um partido que perdeu o rumo", disse o prefeito.
- "Politicamente sem-teto" -
Em Phoenix e seus arredores, dezenas de cartazes de "Republicanos por Harris" alinham-se nas rodovias.
O movimento anti-Trump no Arizona teve menos apoio em 2020. Este ano, os ativistas dizem ter arrecadado 120 mil dólares (658 mil reais, na cotação atual) de pequenos doadores, o dobro do que nas últimas eleições.
No jardim da casa de Daniel Schweiker há um cartaz a favor de Harris. Aos 75 anos, este aposentado sente falta das figuras republicanas de antigamente, como os Bush ou o polêmico Richard Nixon. Ele se considera "politicamente sem-teto".
As pesquisas preveem um resultado apertado no Arizona. Segundo o site FiveThirtyEight, Trump tem uma vantagem de 1,5 ponto.
Mas Schweiker quer acreditar que o ex-presidente e seus aliados serão punidos por terem radicalizado o Partido Republicano. "Para ganhar uma eleição geral, você precisa se mover em direção ao centro, e essas pessoas não sabem como fazer isso", afirma.
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