A nova presidente do México, Claudia Sheinbaum, apresentou, nesta terça-feira (8), o seu plano de segurança que busca acabar com a espiral de violência que provoca cerca de 30.000 assassinatos por ano, a maioria deles associados ao crime organizado transnacional, priorizando a prevenção e a inteligência antes da força.

"A guerra contra o tráfico de drogas não vai voltar", disse a governante de esquerda, referindo-se à ofensiva iniciada em 2006 com participação militar e apoio dos Estados Unidos. 

Sheinbaum, que assumiu o poder em 1º de outubro, manterá em linhas gerais a estratégia de seu antecessor, Andrés Manuel López Obrador, de combater a criminalidade desde suas raízes com investimento social. 

"O que vamos usar? Prevenção, atenção às causas, inteligência e presença" das autoridades, afirmou em sua coletiva de imprensa matinal. 

A esses eixos se somarão a consolidação da militarizada Guarda Nacional e uma maior coordenação com os diferentes estados.

A violência no México está concentrada em pontos estratégicos: rotas para o transporte de drogas, fronteiras, portos de entrada dos componentes chineses do fentanil e regiões agroindustriais submetidas à extorsão. 

Nestas áreas, operam e se enfrentam os dois principais cartéis do país, Sinaloa e Jalisco Nova Geração (CJNG).

- O que Sheinbaum propõe -

A presidenta propõe ações imediatas, como focar nos estados mais perigosos (Guanajuato, Baja California, Chihuahua, Guerrero, Jalisco e Sinaloa) e atacar "crimes de alto impacto", como a extorsão. 

Para isso, sugere fortalecer e unificar os sistemas de inteligência militares e civis, além de criar uma subsecretaria de inteligência e investigação policial dentro da Guarda Nacional. 

Consolidar essa corporação, criada por López Obrador e que conta com cerca de 130.000 efetivos, será fundamental para apoiar não apenas a população, mas também os trabalhos de investigação. 

"Há famílias que hoje não têm acesso a policiais municipais confiáveis ou a policiais estaduais totalmente fortalecidos. É aí que a Guarda Nacional terá um papel importante", destacou o secretário de Segurança, Omar García Harfuch.

- Geografia do crime -

A violência não dá trégua: dois dias após a posse de Sheinbaum, 12 pessoas foram assassinadas no estado de Guanajuato (centro), enquanto no domingo o prefeito de Chilpancingo foi decapitado e uma guerra entre traficantes deixou 150 homicídios em Sinaloa (noroeste) no último mês.

A escalada em Guanajuato deve-se a uma "contraofensiva" do cartel de Sinaloa e seus aliados contra o CJNG, que domina a região, explica o especialista em segurança David Saucedo. 

Guanajuato é o estado mais violento do México, com mais de 3.000 homicídios em 2023. Esta área também é conhecida por receber investimentos milionários de multinacionais como GM, Mazda, Honda, etc.

Governado pelo opositor PAN (direita), Guanajuato "é, de longe", o estado com mais homicídios e jovens com adições, comentou Sheinbaum, que também evocou os altos níveis de pobreza em cidades como León. 

"Há um modelo de desenvolvimento que fracassou", acrescentou a presidente, que planeja, por isso, atacar as raízes da criminalidade.

Em Guerrero, na costa do Pacífico, diversas máfias disputam o controle do tráfico de drogas por via marítima e outras atividades criminosas. 

Enquanto isso, em Sinaloa, um conflito interno no cartel de mesmo nome causou uma onda de violência, segundo o governador do estado, Rubén Rocha. 

Já as cidades fronteiriças com os Estados Unidos, como Tijuana, Ciudad Juárez e Reynosa, estão entre as mais perigosas do mundo, visto que são rotas de tráfico de drogas e de migrantes.

"Os cartéis de Sinaloa e Jalisco estão no centro" da crise do fentanil, uma droga sintética ligada a dois terços das mais de 100 mil overdoses nos EUA em 2023, segundo Anne Milgram, a administradora da DEA, a agência antidrogas dos EUA. 

Ambos "são empresas criminosas mundiais" que compram fornecimentos da China para fabricar drogas sintéticas, controlam "laboratórios clandestinos no México" e "utilizam suas vastas redes de distribuição para transportar drogas para os Estados Unidos", segundo a DEA. 

Historicamente, os cartéis também conseguiram se associar à corrupção dos funcionários de segurança.

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