O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, alertou no domingo (20) que o governo atuará com "rigor" contra aqueles que tentam alterar a ordem pública, em meio a um apagão total que mantém a ilha no escuro há três noites.

Durante uma reunião governamental, o presidente, vestido com uniforme militar, disse que as pessoas que tentarem "provocar perturbações da ordem pública" e que participarem de atos de vandalismo "serão processadas como corresponde ao rigor contemplado nas leis revolucionárias".

Alguns "atuam sob as orientações envidadas pelos operadores da contra-revolução cubana do exterior", acrescentou.

Ao mesmo tempo, em vários bairros da capital Havana foram registrados panelaços de descontentamento com a falta de energia elétrica. Dezenas de pessoas, incluindo mulheres com crianças nos braços, protestaram no bairro populoso de Santos Suárez. "Acendam a luz", gritaram.

Outro grupo fechou uma rua no centro de Havana com barricadas de lixo.

Nas redes sociais, cubanos publicaram vídeos atribuídos a um protesto em Manicaragua, localidade da província de Villa Clara (centro), mas a AFP não conseguiu verificar a autenticidade das imagens.  

Em meio ao colapso energético, o furacão Oscar tocou o solo de Cuba como fenômeno de categoria 1 na província de Guantánamo, perto da cidade de Baracoa, às 17H50 locais (18H50 de Brasília), mas pouco depois foi rebaixado para tempestade tropical, segundo o Centro Nacional de Furacões (NHC) dos Estados Unidos.

Ondas de até quatro metros de altura atingiram o calçadão de Baracoa, onde foram registrados alguns danos nos telhados e muros das casas e quedas de postes e árvores, informou a imprensa estatal.

O Centro de Previsões do Instituto Meteorológico de Cuba informou que o furacão apresentou "ventos máximos sustentados" de 130 quilômetros por hora, "com rajadas superiores".

O fenômeno natural atingiu uma Cuba que está sem energia elétrica desde sexta-feira devido a uma falha na central termelétrica Antonio Guiteras, a mais importante da ilha, que provocou a queda do sistema nacional.

O presidente reconheceu que a situação do sistema elétrico continua "complexa", com uma forte instabilidade.

O ministro de Energia e Minas, Vicente de la O Levy, afirmou durante o domingo que as autoridades esperavam restaurar o serviço na noite de segunda-feira para a maioria da ilha. Porém, pouco depois do anúncio, uma nova falha deixou mais de 200 mil pessoas em Havana sem energia elétrica.

- Dificuldade atrás de dificuldade -

As autoridades suspenderam as aulas e as atividades essenciais de trabalho até quarta-feira, apenas hospitais e serviços vitais para a população continuarão funcionando.

“Minha geladeira está descongelada há três dias e tenho medo de que estrague tudo”, explicou Adismary Cuza, um trabalhador privado de 56 anos, que está desesperado. 

“Dois dias sem eletricidade, o que é esse senhor, o que vai acontecer? Os cubanos estão cansados de tanta coisa”, acrescenta Serguei Castillo, 68 anos, que está tão preocupado quanto Cuza.

Na quinta-feira, Díaz-Canel disse que a crise se deve à dificuldade de aquisição do combustível necessário ao sistema elétrico, devido ao embargo que Washington aplica à ilha desde 1962. 

Nesse mesmo dia, o governo anunciou a paralisação dos trabalhos em estatais para enfrentar a crise que nas últimas semanas deixou a população de várias províncias até 20 horas sem luz por dia.

- Sistema precário -

Na ilha, a eletricidade é gerada por oito usinas termoelétricas desgastadas e dependentes de combustível, algumas das quais quebraram ou estão passando por manutenção, além de várias usinas flutuantes - que o governo aluga para empresas turcas - e geradores.

A maior parte dessa infraestrutura precisa de combustível para funcionar.

Com a escassez de alimentos e medicamentos, o aumento da inflação e os apagões crônicos que limitam o desenvolvimento das atividades produtivas, Cuba está enfrentando a pior crise econômica das últimas três décadas.

Os apagões foram um dos gatilhos para as manifestações históricas de 11 de julho de 2021.

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