A Justiça peruana vai anunciar, nesta segunda-feira (21), a sentença do ex-presidente Alejandro Toledo no julgamento em que é acusado de receber subornos da empreiteira brasileira Odebrecht, caso para o qual o Ministério Público pede mais de 20 anos de prisão. 

A audiência, presidida pela juíza Zaida Pérez, está marcada para as 14h00 (16h00 no horário de Brasília) no tribunal adjacente à pequena prisão para ex-presidentes ao leste de Lima, onde Toledo está detido preventivamente há 18 meses. 

O ex-presidente (2001-2006) enfrenta acusações de conluio e lavagem de dinheiro por supostamente ter recebido US$ 35 milhões (R$ 198 milhões na cotação atual) da Odebrecht em troca de licitações para a construção de dois trechos da rodovia Interoceânica Sul, que liga a costa do Pacífico do Peru e a do Atlântico do Brasil. 

O Ministério Público pede 20 anos e seis meses de prisão. 

Toledo, de 78 anos, é o primeiro dos quatro ex-presidente peruanos investigados pelo escândalo de corrupção da Odebrecht cujo caso termina com uma sentença judicial. 

Segundo o MP, o complô da Odebrecht no Peru também afetou Alan García (2006-2011), que se suicidou em 2019 antes de ser preso, Ollanta Humala (2011-2016) e Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018).

- "Sou inocente" -

Toledo negou as acusações desde que em 2016 a construtora brasileira revelou, à justiça dos Estados Unidos, uma rede de corrupção a nível regional para obter contratos de obras públicas. 

"Sou inocente, nunca fiz nenhum acordo com o senhor (Jorge Simões) Barata", que era o diretor da Odebrecht no Peru, disse Toledo à juíza na quarta-feira, na última audiência antes da sentença.

Dirigindo-se ao tribunal, composto por três juízes, o ex-presidente pediu que o veredicto leve em consideração o seu estado de saúde. 

"Tenho câncer e problemas cardíacos (...). Quero ir para uma clínica privada, peço que deixem eu me curar ou morrer em casa", acrescentou, com a voz embargada, no seu depoimento final.

O promotor José Domingo Pérez garantiu que existem provas que permitem "afirmar que Alejandro Toledo solicitou 35 milhões de dólares à Odebrecht" em troca da concessão à Odebrecht de dois dos quatro trechos desta estrada no Peru. 

"Provamos o crime de conluio e lavagem de dinheiro", destacou na fase final do julgamento, que durou 12 meses. 

No caso de Toledo, foram fundamentais os depoimentos de seu ex-colaborador Josef Maiman e de Jorge Barata, ex-representante da Odebrecht no Peru. Ambos afirmam que ele recebeu os subornos.

O ex-diretor da Odebrecht no Peru confirmou ao Ministério Público peruano o pagamento de propina em troca de não estar envolvido no processo. Barata mora no Brasil, enquanto Maiman prestou depoimento em Israel antes de morrer em 2021. 

Segundo a denúncia, o suborno permitiu à Odebrecht conquistar a concessão da rodovia. As obras fazem parte de um grande eixo rodoviário de 2.600 quilômetros para integrar esses países do Atlântico ao Pacífico. 

Desde que os Estados Unidos o extraditaram em abril de 2023, Toledo está preso. 

A Odebrecht reconheceu o pagamento de subornos no Brasil e em outros países da região no âmbito do escândalo Lava Jato, pelo qual dezenas de políticos e empresários da América Latina estão presos. 

A Lava Jato é o caso matriz que revelou a corrupção da gigante brasileira no país e na região. Toledo, economista formado nos Estados Unidos, chegou ao poder em 2001, depois de liderar a oposição ao regime do falecido Alberto Fujimori (1990-2000).

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