O governo argentino anunciou, nesta quarta-feira (23), que privatizará a Trenes Argentinos Cargas, principal empresa estatal do setor, que abrange três linhas ferroviárias e passa por 16 províncias.

"A empresa opera 7.600 km de vias que agora serão concedidas a particulares", indicou a Presidência em um comunicado.

Trata-se da primeira privatização de uma empresa ferroviária desde o início da administração do presidente ultraliberal Javier Milei.

"Como o presidente Milei mencionou (ao assumir) no dia 10 de dezembro, tudo que puder ser privatizado será privatizado", reforçou o porta-voz presidencial, Manuel Adorni, em uma coletiva de imprensa.

A empresa, também conhecida como Belgrano Cargas, é "obscenamente deficitária e possui um quadro de 4.429 pessoas", pelo que, no ano passado, os contribuintes argentinos "tiveram que aportar 112 milhões de dólares (R$ 640 milhões na cotação atual) para sua sobrevivência", afirmou o comunicado.

Sobre seus trilhos são transportados principalmente produtos agrícolas, pedra, carvão de coque, madeira, minerais, metais e produtos para consumo.

O anúncio ocorre uma semana antes de uma paralisação nacional do transporte em protesto ao ajuste fiscal que o governo Milei está promovendo.

Adorni assegurou que "o limite de quantidade de toneladas que pode transportar a Belgrano Cargas permanece congelado desde 2009".

Diego Chaer, titular da Agência de Transformação de Empresas Públicas, explicou que as vias, locomotivas, vagões e oficinas serão concedidos. Exceto pela concessão das locomotivas, o restante incluirá a transferência dos empregados.

"As terras e as vias continuam sendo propriedade do Estado Nacional", garantiu.

O jornal local La Nación informou que 94% do transporte de cargas no quarto maior país das Américas (depois do Canadá, Estados Unidos e Brasil) é feito por caminhão, e apenas 6% por trem, através da Belgrano Cargas.

A dirigente sindical ferroviária e deputada nacional Mónica Schlotthauer disse à AFP que "as privatizações já fracassaram, demonstraram da maneira mais cruel que significam esvaziamento, corrupção e morte", referindo-se à "tragédia de Once", um acidente de trem que deixou 51 mortos e mais de 700 feridos em Buenos Aires no ano de 2012.

A Argentina teve privatizações em massa de seu sistema ferroviário na década de 1990, quando o então presidente Carlos Menem passou grande parte das ferrovias à iniciativa privada, o que gerou uma queda na qualidade do serviço, fechamento de estações e de ramais inteiros.

Nas décadas de 2000 e 2010, o Estado recuperou o controle de várias dessas linhas.

Em 2013, foi fundada a Belgrano Cargas e Logística SA para unificar as três principais linhas ferroviárias de carga (Belgrano, San Martín e Urquiza). Em 2016, a empresa começou a ser chamada de Trenes Argentinos Cargas.

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