"Não podemos nos dar ao luxo de esperar por condições perfeitas" para ajudar o Haiti a se reerguer, afirma o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o brasileiro Ilan Goldfajn, que se orgulha de "trabalhar com todos" os governos, sejam de esquerda ou direita.

O chefe do BID demonstrou isso ao conseguir colocar em acordo dois políticos irreconciliáveis: o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que o indicou para o cargo, e seu sucessor Luiz Inácio Lula da Silva, que deu a ele sua aprovação.

Goldfajn prefere enfrentar obstáculos em vez de esperar, uma convicção que aplica ao Haiti, o país mais pobre das Américas, onde gangues deslocaram centenas de milhares de pessoas, e a economia deve encolher pelo sexto ano consecutivo.

O BID está avaliando, com outras organizações como o Banco Mundial e a ONU, a quantidade de fundos necessários para o Haiti, mas por enquanto doa em média 100 milhões de dólares (cerca de 570 milhões de reais) anuais ao país, onde uma missão multinacional de apoio à segurança começou a ser implantada.

Pergunta: O Haiti é um país esquecido pelas instituições financeiras internacionais?

Resposta: "Não acho que esteja esquecido. É mais uma questão de fadiga (...), mas não podemos nos dar ao luxo de estarmos fatigados, assim como não podemos nos dar ao luxo de esperar por condições perfeitas".

"Precisamos estar lá, mesmo que o problema de segurança ainda esteja pendente, mesmo que não tenhamos a governança perfeita".

P: A insegurança é descomunal na capital, Porto Príncipe, parcialmente sob o controle de gangues...

R: "Soluções estão sendo buscadas", mas "precisamos fazer o melhor que pudermos (...) porque há um círculo vicioso. Se as condições não são adequadas, não há governança. Portanto, você não consegue recursos".

"Eles caem na pobreza" e "são recrutados pela violência, e então, com mais violência, há menos investimento, menos emprego".

"Uma coisa se encaixa na outra. Precisamos quebrar isso" e "não é com condições perfeitas".

P: Nessas circunstâncias, como se pode mobilizar a enorme quantidade de fundos de que o país precisa?

R: "É preciso um plano, ter governança e doadores. Já temos os doadores e estamos desenhando o plano com o Haiti".

"Uma vez que as necessidades básicas de saúde, educação e ajuda humanitária sejam atendidas no primeiro ou segundo ano, passamos à reconstrução".

"Então, é preciso alguém para fazer isso". "Estamos trabalhando com o governo para ter uma agência de execução. Podemos fornecer recursos, pessoas, mas eles precisam assumir o controle".

P: Que medidas estão tomando para evitar que os fundos acabem nas mãos do crime organizado?

R: "Trabalhamos com ONGs locais e com organismos da ONU, como o Programa Mundial de Alimentos, que nos ajudam na distribuição".

P: As ONGs estão expostas a sequestros. Não se expõem ainda mais ao lidar com grandes quantidades de dinheiro?

R: "Fornecemos os fundos em partes" e "algumas das transferências de dinheiro são feitas de forma eletrônica". Essa tecnologia "ajuda em situações frágeis".

P: Mudando de assunto, metade dos argentinos estão na pobreza. O que o presidente Javier Milei está fazendo de errado?

R: "Não vou dizer o que está certo ou errado (...), estamos aqui para construir pontes com qualquer país, qualquer governo".

"Houve uma importante consolidação fiscal, que a comunidade internacional solicitou que a Argentina fizesse, e isso foi realizado, pelo menos até agora. A questão é: como podemos ajudar a Argentina a tornar seu ajuste mais eficiente?"

"Há um certo espaço para alcançar eficiência. Que tipo de eficiência? Uma é nos subsídios à energia".

"Se os subsídios forem eliminados, isso pode ser feito de diferentes maneiras. (...) Quem puder pagar, que pague; quem precisar ser protegido, será protegido".

Em segundo lugar, “se quisermos que seja sustentável, precisamos proteger os mais vulneráveis”. 

P: O candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, citou o nome de seu antecessor, Mauricio Claver-Carone, durante seu mandato. Como você acha que ele influenciará caso vença as eleições?

R: “Eu era de um banco central, depois trabalhei no FMI e agora estou aqui. Para minha eleição, fui indicado por um governo e depois confirmado por outro. Portanto, sou o exemplo de uma ponte, do que precisamos nas organizações multilaterais. Precisamos ser capazes de construir pontes e conversar com todos.

P: Então você não está preocupado com uma vitória de Trump…

R: “Vamos trabalhar com todos”.

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