A exploração de combustíveis fósseis ameaça uma faixa cada vez maior de áreas protegidas no Triângulo de Coral, uma das áreas marinhas com maior biodiversidade do mundo, segundo um relatório publicado neste sábado (26).
Divulgado no âmbito da COP16 da ONU sobre biodiversidade na cidade colombiana de Cali, o documento adverte sobre como a expansão do petróleo, gás e gás natural liquefeito (GNL) no Indo-Pacífico está colocando em perigo as espécies marinhas e dezenas de milhões de pessoas.
Apelidado de "Amazônia dos mares" por sua variedade de espécies, o Triângulo de Coral abrange mais de 10 milhões de km² em águas de Indonésia, Malásia, Papua-Nova Guiné, Singapura, Filipinas, Timor Leste e Ilhas Salomão.
Contém três quartos das espécies de coral conhecidas no mundo, segundo o relatório elaborado por organizações de monitoramento como o projeto de pesquisa Earth Insight, o observatório de imagens de satélite SkyTruth e o Centro de Energia, Ecologia e Desenvolvimento, um grupo de reflexão filipino.
O triângulo também abriga seis das sete espécies de tartarugas-marinhas do mundo e serve de área de alimentação para baleias e outros mamíferos marinhos.
Mais de 120 milhões de pessoas também dependem dele para subsistir.
No entanto, as áreas de concessão de exploração de petróleo e gás e de produção se sobrepõem a dezenas de milhares de quilômetros de zonas marinhas protegidas, segundo o relatório.
O documento identifica uma produção na região de mais de 100 blocos de petróleo e gás offshore. Outros 450 blocos estão sendo explorados para futuras extrações.
"Se todos os blocos entrassem em produção, cerca de 16% do Triângulo de Coral se veria diretamente afetado pelo desenvolvimento de combustíveis fósseis", indica o relatório.
Segundo o estudo, a expansão dos combustíveis fósseis aumentará o tráfego de navios e o risco de derramamento de petróleo.
- De mau a pior -
Desde julho de 2020, os satélites detectaram 793 manchas de petróleo no Triângulo de Coral, de acordo com o informe.
Quase todas foram causadas por navios em trânsito, e algumas outras por infraestruturas petroleiras.
"Acumuladas, todas as manchas cobriram uma área de mais de 24.000 km², petróleo quase suficiente para cobrir o território das Ilhas Salomão", diz o documento.
Seus autores pedem uma moratória das atividades petrolíferas, de gás, mineração, entre outras, nas áreas ecologicamente sensíveis do Triângulo de Coral.
Também instaram a "dar um salto no uso do GNL como combustível de transição" na medida em que o mundo se distancia do carvão e do gás, e muda diretamente para fontes de energia limpa em seu lugar.
O relatório pede que o triângulo seja designado "zona marítima especialmente sensível", que precisa de proteção especial diante da navegação.
O chamado Marco Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal, aprovado há dois anos por 196 partes do Convênio sobre Diversidade Biológica da ONU, estabelece 23 objetivos para "deter e inverter a perda de biodiversidade daqui até 2030.
Inclui garantir que 30% das áreas marinhas e costeiras estejam "efetivamente conservadas e geridas" e que 30% estejam "sob restauração efetiva".
De acordo com um relatório do Greenpeace publicado na segunda-feira, apenas 8,4% dos oceanos do planeta gozam de proteção neste momento.
"Ao ritmo atual, não alcançaremos 30% de proteção no mar até o próximo século", declarou Megan Randles, assessora política do Greenpeace.
A cúpula sobre biodiversidade pretende medir os avanços para concretização dos objetivos da ONU.
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