SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Ed Rosa, 60, morador de Nova York e filho de pais nascidos em Porto Rico, foi a comícios de Donald Trump e instalou placas em apoio ao presidenciável nas janelas e no quintal de sua casa nos Estados Unidos. À agência Reuters ele disse ter desistido de votar a apenas nove dias do pleito, logo depois de a ilha caribenha ser alvo de comentário racista em um evento de campanha com o candidato republicano.
Na eleição projetada para ser a mais acirrada da história, uma fala do humorista Tony Hinchcliffe durante um showmício de Trump se tornou dor de cabeça para o Partido Republicano.
Em ato no Madison Square Garden no domingo (27), ele disse que Porto Rico é uma ilha de lixo flutuante. O comentário ofuscou a participação de Trump - associações que atuam com latinos, personalidades e até mesmo partidários do republicano criticaram a fala.
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Porto Rico é um território dos EUA no Caribe, mas seus habitantes não podem votar na eleição à Presidência. A diáspora, porém, é significativa, e o direito pode ser concedido caso o cidadão se mude para um dos estados onde ocorre votação.
Em 2021, 5,8 milhões de porto-riquenhos moravam nos chamados EUA continentais, segundo análise do Pew Research Center com base em dados do governo. No estado da Pensilvânia, decisivo para o pleito, 3,8% da população é de Porto Rico ou descendente, de acordo com a organização Puerto Rico Report. Somente na cidade de Filadélfia, 140 mil pessoas (15% do total) pertencem a esse grupo.
A Pensilvânia tem o maior número de delegados em disputa entre os sete estados-pêndulo, aqueles que não são tradicionalmente democratas ou republicanos, e é central para o resultado da eleição marcada para o próximo dia 5. Em 2020, Biden venceu no estado por uma margem de 1,2 ponto percentual, ou menos de 82 mil votos. No pleito atual, pesquisas mostram Kamala Harris e Trump empatados na região.
Numa tentativa de conter os danos, a campanha do republicano tem dito que o comentário de Hinchcliffe não reflete as opiniões do ex-presidente. "Olha, foi um comediante que fez uma piada de mau gosto", disse a porta-voz da campanha Karoline Leavitt à Fox News nesta segunda-feira (28).
Trump não se manifestou sobre a declaração. E o histórico do candidato com a comunidade porto-riquenha também não o ajuda. Quando o furacão Maria devastou a ilha em 2017, durante o primeiro ano de seu mandato, o governo Trump demorou para responder. Estudo de Harvard publicado no ano seguinte apontou que ao menos 4.645 pessoas morreram em consequência do fenômeno, o que é contestado pelo republicano.
Depois, Trump foi acusado de minimizar o sofrimento das vítimas. Em várias ocasiões, o ex-presidente sugeriu que o número de pessoas mortas foi modesto em comparação com quantidade provocada pelo furacão Katrina, que matou em 2005 cerca de 1.800 pessoas, a maioria em Nova Orleans.
Miles Taylor, que foi chefe de gabinete do Departamento de Segurança Interna no governo Trump, disse que durante a crise do furacão Maria o republicano falou em vender Porto Rico ou trocar o território pela Groenlândia, que pertence à Dinamarca, pois considerava o local sujo e pobre.
A fala racista de Hinchcliffe, portanto, aumenta o histórico de polêmicas do empresário com a comunidade porta-riquenha. Com efeito, Bad Bunny, um dos maiores artistas da atualidade, endossou Kamala Harris ainda no domingo. A atriz e cantora Jennifer Lopez, cujos pais nasceram em Porto Rico, e o cantor e ator porto-riquenho Ricky Martin foram outras personalidades que criticaram o republicano. "Isso é o que eles pensam de nós" escreveu ele em espanhol.
Entre os aliados de Trump que criticaram os comentários de Hinchcliffe está o senador republicano Rick Scott, da Flórida, estado com percentual expressivo de eleitores porto-riquenhos e latinos. "Não é engraçado e não é verdade", escreveu ele no X sobre a fala do convidado de Trump.
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Kamala, por sua vez, aproveitou o caso para acenar ao eleitorado hispânico. "Porto Rico é o lar de algumas das pessoas mais talentosas, inovadoras e ambiciosas da nossa nação", disse ela.
Essa fatia dos eleitores participa em número recorde no pleito atual e vem sendo disputada com unhas e dentes pelos postulantes à Casa Branca. Nos EUA, há cerca de 36 milhões de eleitores latino-americanos aptos a votar este ano nos EUA, segundo o Pew Research Center.