O governo venezuelano informou, nesta quarta-feira (30), que convocou seu embaixador no Brasil para consultas, em meio à crise desencadeada pelo veto brasileiro ao ingresso da Venezuela no Brics e aos questionamentos sobre a reeleição do presidente Nicolás Maduro em julho. 

"Informa-se à comunidade nacional e internacional que, seguindo instruções do presidente Nicolás Maduro Moros, foi decidido convocar imediatamente o embaixador Manuel Vadell para consultas", informou o Ministério das Relações Exteriores venezuelano em um comunicado, no qual acrescentou que o encarregado de negócios do Brasil em Caracas também foi convocado.  

"Denunciamos o comportamento irracional dos diplomatas brasileiros, que, contrariando a aprovação dos demais membros dos Brics, assumiram uma política de bloqueio", acrescenta o texto.

O veto foi imposto durante a cúpula do bloco do qual o Brasil foi cofundador em 2009, realizada entre 22 e 24 de outubro na cidade russa de Kazan.

No centro da polêmica entre Brasília e Caracas está o ex-chanceler Celso Amorim, assessor de política externa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Amorim foi observador nas eleições presidenciais e disse que a decisão no Brics se deveu a uma "quebra de confiança" com a Venezuela após o pleito. 

O Brasil não reconheceu os resultados oficiais das eleições de 28 de julho devido à falta de transparência no escrutínio, em linha com outros países da América Latina, além dos Estados Unidos e da União Europeia. 

A oposição venezuelana, por sua vez, reivindica a vitória de seu candidato, Edmundo González Urrutía, e denuncia fraude.

- Persona non grata -

O Parlamento venezuelano tem previsto declarar Amorim "persona non grata" em sua próxima sessão, prevista para esta quinta-feira, 31 de outubro.

Em seu comunicado, a Chancelaria venezuelana reforçou, ainda, o "mais firme repúdio às declarações intervencionistas e grosseiras de porta-vozes autorizados pelo governo brasileiro", com ênfase em Amorim, a quem chamou de "um mensageiro do imperialismo norte-americano", que "tem se dedicado de maneira impertinente a emitir juízos de valor sobre processos que correspondem apenas aos venezuelanos".

Na terça-feira, Amorim já havia dito que a Venezuela estava reagindo de forma "desproporcional" ao veto à sua entrada no Brics, o qual também integram Rússia, Índia, África do Sul, Egito, Irã, Etiópia e Emirados Árabes Unidos.

Maduro pediu a Lula - um antigo aliado desde os tempos de seu antecessor, Hugo Chávez - que se pronunciasse sobre o veto.

Lula, por sua vez, tem se distanciado de Caracas, e chegou a tachar o governo de Maduro de "regime muito desagradável" com "viés autoritário".

O chefe do Parlamento venezuelano, o poderoso líder chavista Jorge Rodríguez, antecipou que vai pedir em plenário a declaração de Amorim como "persona non grata" após acusá-lo de "intromissão" e de servir aos Estados Unidos no questionamento internacional às últimas eleições.

"O senhor se comportou de maneira avessa, mais como um interlocutor do governo dos Estados Unidos do que no papel supostamente atribuído pelo presidente Lula", escreveu Rodríguez em um comunicado divulgado pouco antes da nota da Chancelaria. "Por isso, sua intromissão nos assuntos que só competem a nós, daí sua posição absolutamente prostrada aos desígnios do império agressor".

"Solicitaremos ao plenário da Assembleia Nacional da República Bolivariana da Venezuela que o declare persona non grata e não nos importam os compromissos e conluios aos quais tenha chegado com seus amos do norte", sentenciou.

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