O julgamento de um homem que drogava a esposa para ser estuprada por dezenas de estranhos recomeça nesta segunda-feira (4) na França, com novas declarações de oito corréus.
O caso de Dominique Pelicot, de 71 anos, e de outros 50 corréus, com idades entre 26 e 74 anos, gerou uma onda de indignação e protestos na França desde que começou, em 2 de setembro, na cidade de Avignon, sul do país.
A vítima, Gisèle Pelicot, 71 anos, tornou-se um ícone feminista no país e no mundo ao exigir que o processo fosse público para que "a vergonha mude de lado".
O tribunal já interrogou 36 acusados, incluindo o próprio Pelicot, e nesta segunda-feira, após uma pausa de uma semana, começará a ouvir outros oito.
Antoine Camus, um dos advogados de Gisèle Pelicot, afirmou que a atenção internacional ao caso deu forças à sua cliente para continuar.
"É uma corrida de longa distância, mas ela, claro, continua preparada para a luta e determinada a fazê-la também porque foi encorajada por esta onda de apoio na França e no exterior", disse à AFP.
"Ela recebe com frequência muitos relatos que a ajudam nesta maratona, que está enfrentando não apenas por ela", acrescentou.
O caso de estupro veio à tona quando a polícia prendeu Dominique Pelicot em 2020 por filmar por baixo das saias de mulheres em um supermercado local.
O acusado admitiu ter estuprado sua agora ex-mulher Gisèle Pelicot e ter recrutado dezenas de homens para se juntarem a ele entre 2011 e 2020, documentando meticulosamente os estupros com milhares de imagens que os investigadores encontraram em discos rígidos.
- Motorista, zelador e um soropositivo -
Os corréus, que podem pegar até 20 anos de prisão por estupro qualificado, alegaram em grande parte que não tinham ideia de que se tratava de estupro. Pensavam que estavam participando de uma brincadeira sexual de um casal libertino.
"É realmente desgastante para Gisèle Pelicot ouvir quase sistematicamente as mesmas explicações dos acusados", declarou Camus. Como se ela fosse "vítima de estupro 'acidental', por 'erro de julgamento' ou estupro 'relutante'", explicou.
Entre os oito acusados que serão ouvidos a partir desta segunda-feira estão um caminhoneiro de 36 anos, um pedreiro de 31, um zelador de 36 e um gerente de restaurante de 42 anos.
Entre eles está também um técnico de informática de 50 anos acusado de tentar usar os mesmos métodos com a própria esposa.
Além disso, há um homem de 63 anos, solteiro e soropositivo, acusado de visitar a casa dos Pelicot, em Mazan, no sul da França, até seis vezes, para estuprar Gisèle Pelicot, sem usar preservativo nenhuma vez.
O tribunal também analisará o caso de um homem de 30 anos, o único dos corréus julgado à revelia.
- 'Abusou da própria filha' -
O oitavo deles é um desempregado de 41 anos, acusado de estuprar Gisèle Pelicot em 2019, com a cumplicidade do marido e na casa da filha do casal na região de Paris.
No primeiro dia de julgamento, em setembro, ele negou ter cometido o estupro.
Os dois filhos e a filha do casal, que atende pelo pseudônimo de Caroline Darian, estiveram várias vezes no tribunal em apoio à mãe. Mas em algumas das audiências mais recentes, Darian não esteve presente.
No final de outubro, quando o julgamento já estava na metade, Darian anunciou no Instagram que passaria alguns dias em uma clínica para recuperar as forças "e voltar a dormir novamente".
Caroline Darian, que em 2022 escreveu o livro "Et j’ai cesse de t’appeler papa" (Parei de te chamar de papai, em tradução livre), tem feito campanha para aumentar a conscientização sobre o uso de drogas para cometer agressões sexuais.
No início do julgamento, ela saiu do tribunal aos prantos quando o presidente do tribunal disse que seu pai também tinha fotomontagens dela nua em seu computador.
"Eu também sou vítima de Dominique P", escreveu Darian no Instagram.
"Ele me drogou sem meu conhecimento e, sem dúvida, abusou de sua própria e única filha", disse.
A sentença está prevista para 20 de dezembro.
dac/ol/ah/yad/bc/zm/jc/fp