Os líderes dos países da União Europeia (UE) participam nesta sexta-feira (8) em Budapeste de uma reunião de cúpula para discutir sobre a necessidade "urgente" de implementar reformas econômicas no bloco, em particular diante do retorno de Donald Trump à Casa Branca.

Os governantes da UE examinarão um relatório elaborado por Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE), que faz um alerta sobre a crescente lacuna entre a Europa e os Estados Unidos.

As recomendações mencionadas no documento "já eram urgentes, dada a situação econômica em que estamos. Tornaram-se ainda mais urgentes após as eleições americanas", declarou Draghi ao chegar à reunião de cúpula.

Para Draghi, "não há dúvida de que a presidência de Trump estabelecerá uma grande diferença nas relações entre Estados Unidos e Europa. Não necessariamente de uma forma negativa".

O encontro acontece dois dias após a eleição de Trump para a Casa Branca, em um contexto que gera dúvidas sobre as relações transatlânticas.

A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, destacou que a diferença em relação aos Estados Unidos é evidente e basta olhar para as estatísticas.

"Se tivéssemos o mesmo ritmo de crescimento que os Estados Unidos desde o início do século, teríamos 11 milhões de empregos a mais", disse Metsola.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, afirmou que o relatório de Draghi "é uma base excelente" para a discussão, pois inclui "recomendações operacionais claras".

- Evitar uma "lenta agonia" -

Em seu relatório publicado em setembro, Draghi alerta que para evitar uma "lenta agonia" a Europa precisa de investimentos adicionais de até 800 bilhões de euros por ano (mais de 850 bilhões de dólares, 4,83 trilhões de reais) e de mudanças políticas drásticas.

A ideia enfrenta resistências em países do norte da Europa, que defendem o retorno à austeridade após os planos de incentivo para superar a pandemia de coronavírus.

O documento insiste também na necessidade de uma política comercial "pragmática" e alinhada com o objetivo de "aumentar o crescimento e a produtividade".

Além da possibilidade real de tensões comerciais com Washington, a UE enfrenta atritos crescentes com a China.

A eleição de Trump para um segundo mandato acendeu várias luzes de alerta na UE, não só por potenciais dificuldades comerciais, mas também por divergências nas áreas de segurança e defesa.

Budapeste foi cenário na quinta-feira da V Cúpula da Comunidade Política Europeia (CPE), que formalmente tinha uma agenda concentrada nos temas migração e economia, mas que, com era previsível, se concentrou nos efeitos da eleição de Trump.

- Tensão -

Na quinta-feira à noite, os líderes da UE compareceram a um jantar em que, de acordo com várias fontes, Trump voltou a ser o principal tema das conversas.

Como na reunião da CPE, os governantes da UE se esforçam para apresentar um bloco unido diante dos desafios representados pela eleição do candidato republicano, em particular na área comercial.

Durante a campanha eleitoral, Trump chamou a UE de 'mini China', que abusa de seus parceiros em busca permanente do superávit comercial.

Contudo, as discussões durante a reunião do CPE sugerem que, apenas dois dias após a eleição nos Estados Unidos, a unidade europeia já está sob pressão.

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, um aliado de Trump, prometeu abrir "várias garrafas" de champanhe em caso de vitória de Trump.

Na quinta-feira, ele disse que comemorou a vitória de Trump com vodca, e não com champanhe, pois estava em uma viagem ao Quirguistão.

A outra grande questão que será abordada na reunião desta sexta-feira é a grave crise política na Alemanha, após o colapso da aliança governamental de Olaf Scholz.

Scholz, que governa a maior economia da Europa, não compareceu à reunião da CPE e chegou a Budapeste apenas no início da noite.

Nesta sexta-feira, o chefe de Governo alemão terá a missão de tranquilizar os homólogos, que não desejam um foco de instabilidade no bloco em um momento crítico.

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