Os Estados Unidos proibiram nesta terça-feira (12), por 30 dias, voos que tenham origem no país e o Haiti como destino, depois que três aviões comerciais foram alvo de disparos em Porto Príncipe.

Os incidentes refletem o caos no país caribenho, devastado pela violência dos grupos criminosos e mergulhado na incerteza política, após a nomeação do segundo primeiro-ministro em cinco meses.

O órgão regulador aéreo dos Estados Unidos anunciou sua decisão depois que um avião da Spirit Airlines, companhia aérea de baixo custo, foi alvo de disparos quando pousava no aeroporto internacional da capital haitiana. Um tripulante sofreu ferimentos leves, e a cabine ficou com marcas de tiros, segundo imagens publicadas em redes sociais.

Outros dois aviões que partiram de Porto Príncipe ontem também foram atingidos por disparos, segundo as companhias aéreas JetBlue e American Airlines, que comprovaram os danos em inspeção posterior.

- 'Crime odioso' -

O conselho presidencial de transição haitiano condenou hoje os disparos contra os aviões e os ataques cometidos contra a população civil nas últimas 48 horas.

"Esse crime odioso, que ameaça a soberania e segurança do Haiti, busca isolar o nosso país no cenário internacional", lamentou o órgão, que anunciou o envio de policiais e militares para o entorno do aeroporto.

Os ataques aos aviões coincidem com o aumento da atividade dos grupos criminosos, que controlam mais de 80% da capital, bem como as principais rodovias do país.

Bairros de Porto Príncipe voltaram a registrar tiroteios nesta terça-feira. Várias escolas da capital haitiana e o aeroporto estavam fechados. Funcionários disseram à AFP que só voltam ao trabalho no aeroporto no próximo dia 18.

A mudança de primeiro-ministro abre um novo período de incertezas na nação caribenha, que não organiza eleições desde 2016 e não teve nenhum líder eleito desde o assassinato do presidente Jovenel Moise, em 2021.

Nesse contexto, os Estados Unidos pediram hoje aos líderes do Haiti que garantam a credibilidade do seu trabalho acima dos interesses pessoais, após a substituição do primeiro-ministro.

Washington, que financia em grande parte a força de segurança internacional destacada este ano no Haiti para conter a violência das gangues, garantiu que trabalhará com Alix Didier Fils-Aimé, empresário de 52 anos que substituiu ontem Garry Conille, destituído pelo conselho presidencial de transição haitiano, com o qual mantinha divergências.

Para evitar um conflito político semelhante, os Estados Unidos pediram ao conselho e a Fils-Aimé que "definam claramente" as responsabilidades de cada um. Esse esforço deve "incluir medidas para responsabilizar cada um conforme o adequado, evitando ao mesmo tempo mais estagnação", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller.

"Também é imperativo promover a responsabilização dentro do conselho presidencial de transição para manter a credibilidade junto ao povo haitiano e à comunidade internacional", acrescentou Miller. 

Antes de ser destituído, Conille havia exigido a renúncia de três dos nove membros do conselho envolvidos em um escândalo de corrupção.

Segundo o secretário-geral da ONU, "a escalada da violência piora uma situação humanitária já grave" no Haiti, um país de 11,6 milhões de habitantes que registrou entre janeiro e junho mais de 3.600 homicídios e 1.100 sequestros, segundo um relatório das Nações Unidas.

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