A América Latina teve um "século perdido" de crescimento econômico e, para recuperar esse atraso, precisa agregar capacidades tecnológicas e gerenciais em um ambiente que propicie a inovação, disse em entrevista à AFP o economista-chefe do Banco Mundial (BM) para a região, William Maloney.

Maloney participa nesta quarta-feira (13), em Montevidéu, de um fórum sobre inovação na América Latina e no Caribe. Ele ressaltou que a região arrasta um problema de baixo crescimento econômico desde a Segunda Revolução Industrial.

"Argentina, Chile e Uruguai estavam no nível da França e Alemanha em 1900. Eram estrelas. Depois, havia um grupo de países latino-americanos muito mais pobres. O que aconteceu nas décadas seguintes foi que as estrelas perderam brilho", disse Maloney, citando como exemplo o Chile, que era o maior exportador de cobre em 1860, à frente do Japão.

Enquanto em 1910 o setor estava morto no Chile - até ser reativado pelos americanos -, no Japão o desenvolvimento do cobre deu origem a três grandes empresas de alta tecnologia: Hitachi, Sumitomo e Fujitsu. "Por que essas empresas surgiram no contexto japonês, e não no Chile? Por falta de capacidade de adaptação às novas tecnologias", avaliou Maloney.

"Minha tese é de que a América Latina entrou desarmada na Segunda Revolução Industrial. Suécia, Dinamarca, Argentina, Chile e Uruguai tinham mais ou menos o mesmo nível de receita em 1900, mas Suécia e Dinamarca tinham níveis de alfabetização de quase 100%, enquanto a Argentina e o Chile tinham 50%, e o Uruguai, 60%. Se medirmos o número de engenheiros per capita, Suécia e a Dinamarca tinham cinco vezes mais do que a América Latina, Espanha e Portugal", observou o economista.

- Oportunidades -

Antes de apresentar o relatório mais recente do Banco Mundial sobre inovação, Maloney garantiu que a América Latina pode reverter seu crescimento baixo.

A região tem que "melhorar o que chamamos no relatório de capital empresarial. Isso é absolutamente fundamental, porque, se não tivermos gente capaz de ver uma oportunidade, de montar um projeto e implementá-lo, e de gerenciar todo o risco associado, não importa quantos subsídios haja ou o quão bom seja seu sistema universitário", apontou Maloney, ressaltando que os empresários latinos não têm consciência desse problema.

Para o economista do BM, é fundamental que os países gerem um ecossistema que promova a pesquisa e o desenvolvimento, o que implica eliminar as travas burocráticas; que exista concorrência, e não monopólios; o acesso ao financiamento; que as leis protejam os trabalhadores, mas sejam suficientemente flexíveis para permitir que as empresas inovem; e que se possa conseguir os insumos externos necessários para trabalhar, detalhou.

O BM considera a América Latina a região mais cara do mundo para se abrir uma empresa, depois da África. "Temos que melhorar a qualidade do capital humano por todos os lados", destacou Maloney, acrescentando que "quase 25% das empresas na América Latina afirmam que não conseguem se expandir por falta de mão de obra qualificada".

O economista ressaltou que a educação básica "tem sido um problema" na região há décadas. "O Uruguai é um caso relativamente bom de educação básica, mas 42% dos alunos de 10 anos não conseguem ler uma frase comum que corresponda ao seu nível."

Para o executivo do BM, o sistema de ensino da região é ruim, e os trabalhadores não recebem um treinamento adequado às necessidades do mercado. Por isso, Maloney pediu que as universidades reforcem seus laços com o setor privado, um modelo bem-sucedido nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia.

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