Os países europeus e os Estados Unidos apresentaram uma resolução condenando a falta de cooperação do Irã em questões nucleares, apesar de uma advertência de Teerã, no início de uma reunião da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) nesta quarta-feira (20). 

Alemanha, França e Reino Unido (E3) e Estados Unidos apresentaram o texto pouco antes da meia-noite de terça-feira (20h00 no horário de Brasília), com a expectativa de submetê-lo a voto na quinta-feira no Conselho de Governadores da AIEA, que tem 35 países-membros, disseram fontes diplomáticas consultadas pela AFP. 

O ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, alertou que a República Islâmica "responderá em conformidade e de forma adequada" à moção, em conversa telefônica com o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, segundo a agência oficial Irna.

"Esta iniciativa (...) apenas complicará ainda mais as coisas", afirmou anteriormente o ministro iraniano em uma conversa com o seu homólogo francês, Jean-Noel Barrot.

A apresentação da iniciativa, de caráter simbólico, ocorre logo após uma visita do argentino Grossi ao Irã, onde se reuniu com o presidente Masud Pezeshkian, que afirmou querer esclarecer as "dúvidas e ambiguidades" sobre o programa nuclear iraniano.

Durante a sua visita, a agência nuclear da ONU "verificou" nas instalações nucleares de Natanz e Fordo "que o Irã iniciou os preparativos destinados a travar o aumento das suas reservas de urânio enriquecido a 60%", segundo o relatório da visita. 

É um gesto de boa vontade recebido com "ceticismo" por Washington e pelo E3, disse um diplomata.

- Respostas credíveis -

Estes países temem que o Irã esteja enriquecendo urânio a 90%, o limite que lhe permitiria fabricar uma bomba atômica. Teerã nega aspirar a ter esse tipo de arma. 

Cansados de esperar por medidas concretas, os países ocidentais decidiram apresentar a resolução ao conselho da AIEA poucos meses depois de uma medida semelhante em junho. 

O Irã já alertou que, caso seja aprovada uma condenação do seu programa nuclear, tomará "contramedidas imediatas" que "certamente não agradarão" os países ocidentais.

O texto final, consultado pela AFP, "reafirma que é essencial e urgente" que Teerã forneça "respostas técnicas credíveis" sobre a presença de restos inexplicáveis de urânio em dois locais não declarados perto de Teerã, em Turquzabad e Varamin. 

Também pede um "relatório completo" da AIEA até março de 2025 ou o mais tardar na primavera boreal.

O ministro francês Barrot considerou que a "escalada nuclear" iraniana é "muito preocupante e acarreta riscos de proliferação significativos". 

Os três países europeus, juntamente com China, Rússia e Estados Unidos, chegaram a um pacto com o Irã sobre o seu programa nuclear em 2015, através do qual as sanções foram levantadas em troca de garantias de que Teerã não desenvolverá uma arma atômica. 

Porém, em 2018, o então presidente dos EUA, Donald Trump, retirou unilateralmente o seu país do pacto e reimpôs sanções contra o Irã. Em resposta, Teerã aumentou drasticamente o seu arsenal de materiais enriquecidos e elevou o limite para cerca dos 90% necessários para fabricar uma arma atômica. 

Com isso, o acordo de 2015 perdeu validade, e em 2022 as negociações para reativá-lo fracassaram.

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