Os uruguaios voltam às urnas neste domingo (24) para escolher entre a continuidade do governo de centro-direita ou a mudança para a esquerda do ex-presidente José Mujica, em um segundo turno que os analistas antecipam como muito acirrado.
O opositor Yamandú Orsi, um professor de História de 57 anos, e Álvaro Delgado, um veterinário de 55 anos, aspiram governar o país de 3,4 milhões de pessoas, considerado a democracia mais sólida da América Latina e com uma renda per capita comparativamente alta e baixos níveis de pobreza.
Um deles sucederá em março o presidente Luis Lacalle Pou, que tem um alto índice de aprovação, mas é constitucionalmente impedido de buscar um segundo mandato consecutivo.
Com Orsi, a Frente Ampla aposta em recuperar a cadeira presidencial que perdeu em 2020 após 15 anos no cargo.
Silvia Martínez, uma trabalhadora doméstica de 60 anos, quer que Orsi vença porque com a Frente Ampla ela estava melhor "em tudo" e com a coalizão governista, "em nada".
"Nós, que estamos abaixo, somos os que mais sofrem", disse ela à AFP após ouvir Mujica em um evento. O ex-presidente (2010-2015) teve um papel de destaque na campanha de Orsi como "principal estrategista", de acordo com o cientista político Alejandro Guedes.
O ex-guerrilheiro de 89 anos, que ainda está se recuperando de um câncer no esôfago, saiu às ruas para atrair novos apoiadores. Em atos de campanha e entrevistas, ele exibiu seu estilo de vida austero, que no passado lhe rendeu o apelido de "o presidente mais pobre do mundo", e criticou os políticos que "gostam muito de dinheiro".
O apadrinhado de Mujica foi o mais votado em 27 de outubro, com 43,9% dos votos, mas não o suficiente para evitar um segundo turno.
Delgado, ex-secretário presidencial de Lacalle Pou, obteve apenas 26,7% como candidato do Partido Nacional, mas agora tem o apoio de todos os aliados da coalizão governista, que recebeu ao todo 47,7%.
"Apoio Álvaro Delgado porque o considero a continuidade deste governo, que para mim foi positivo", disse à AFP Manuel Cigliuti, um assistente administrativo de 24 anos que destacou a gestão da economia, da segurança e da pandemia.
- "Cenário muito competitivo" -
As últimas pesquisas mostram uma ligeira vantagem de Orsi sobre Delgado. Mas analistas alertam que a diferença está nas margens de erro e estimam um "empate técnico".
"Embora Orsi tenha subido em todas as pesquisas, a diferença sobre Delgado diminuiu. É um cenário muito competitivo", analisou o sociólogo Eduardo Bottinelli, diretor da consultoria Factum.
"O país está dividido em duas metades" e é "razoável" estimar que a eleição será definida por menos de 50.000 votos, completou. Em 2019, o pleito foi decidido por apenas 37.000 votos.
"Ainda que a vitória seja por margens estreitas, não se espera que o resultado seja contestado. Quem perder aceitará isso pacificamente e será aberta uma etapa necessária de negociação entre os dois blocos", disse Bottinelli.
O diálogo parece inevitável visto que nem Orsi nem Delgado possuem maiorias parlamentares.
Após as eleições de outubro, 16 das 30 cadeiras do Senado foram para a Frente Ampla e 49 dos 99 assentos da Câmara dos Deputados, para a coalizão governista.
"Temos as condições para assumir nosso país", prometeu Orsi ao encerrar sua campanha, garantindo "uma atitude firme" para "levar adiante as transformações de que o país necessita".
"Abriremos os braços para chegar aos acordos necessários", declarou, por sua vez, Delgado, confiando que "uma maioria silenciosa" lhe dará a vitória, porque "nem os mais opositores" podem negar que o país hoje está "melhor" do que em 2019.
Os analistas não esperam mudanças significativas na política econômica independente do vencedor, embora possa haver diferenças no comércio, com Orsi mais focado na região e Delgado buscando uma maior abertura ao mundo.
Ambos os candidatos querem impulsionar o crescimento, em recuperação após a desaceleração devido à pandemia de covid-19 e a uma seca histórica. Também apostam na redução do déficit fiscal.
No único debate da campanha, Orsi e Delgado se comprometeram a não aumentar a carga tributária e a combater a criminalidade e o tráfico de drogas. A segurança pública é a maior preocupação dos eleitores, segundo as pesquisas.
No Uruguai, o voto é secreto e obrigatório e não existe voto consular. Uma maioria simples é suficiente para vencer a votação, em vez dos 50% dos votos exigidos no primeiro turno.
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