Delegações de Irã, Alemanha, França e Reino Unido se reuniram nesta sexta-feira (29), na cidade suíça de Genebra, para discutir o programa nuclear de Teerã, suas relações com a Rússia e a situação no Oriente Médio.
Após o encontro, Kazem Gharibabadi, um alto funcionário do Ministério das Relações Exteriores iraniano, afirmou que os quatro países "continuarão com seu diálogo diplomático em um futuro próximo".
"Estamos firmemente comprometidos em defender os interesses do nosso povo e optamos pela via do diálogo e do compromisso", declarou Gharibabadi na rede social X, indicando que as conversas foram "francas".
A reunião ocorreu sob grande discrição e em um contexto de fortes tensões entre Israel e Irã e seus aliados, a menos de dois meses do retorno de Donald Trump à Casa Branca, que foi muito duro com a República Islâmica durante seu primeiro mandato.
Nenhum dos países participantes forneceu detalhes sobre o programa das discussões nem sobre o local exato onde ocorreram, ou especificaram quanto tempo duraram.
O chefe dos serviços de inteligência britânicos ressaltou a importância do encontro durante uma visita a Paris nesta sexta-feira. As ambições nucleares do Irã representam uma "ameaça para todos", estimou Richard Moore.
Na mesma linha, seu homólogo francês, Nicolas Lerner, considerou que a "possível proliferação nuclear no Irã" é "uma das ameaças, se não a ameaça mais crítica dos próximos meses".
- "Discussão franca" -
Antes do encontro, o número dois da diplomacia europeia, Enrique Mora, disse na quinta-feira que teve uma "discussão franca" em Genebra com Kazem Gharibabadi e outro alto funcionário do ministério das Relações Exteriores iraniano, Majid Takht-Ravanchi.
A conversa tratou do "apoio do Irã à Rússia, que deve cessar; da questão nuclear, que precisa de uma solução diplomática; das tensões regionais (é importante que todas as partes evitem a escalada); e dos direitos humanos", publicou o diplomata na rede X.
Por sua vez, Gharibabadi pediu à União Europeia que "abandone seu comportamento egocêntrico e irresponsável diante dos problemas e desafios deste continente e das questões internacionais", afirmou na mesma rede o adjunto do chanceler iraniano, Abbas Araqchi.
Além disso, há a iminente volta de Donald Trump à Casa Branca, que foi o arquiteto de uma política de "pressão máxima" contra o Irã durante seu primeiro mandato.
Foi dele a decisão de retirar os Estados Unidos do acordo alcançado em 2015 entre o Irã e seis potências mundiais, pelo qual a República Islâmica se comprometia a limitar seu programa nuclear em troca do levantamento das sanções.
- Debate entre as elites iranianas -
Desde então, o Irã retomou o desenvolvimento de seu programa nuclear, que, segundo suas autoridades, tem fins pacíficos.
No entanto, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) apontou que o Irã é o único país sem bomba nuclear que enriquece urânio a 60%, perto dos 90% necessários para fabricá-la.
Um relatório confidencial dessa agência, ao qual a AFP teve acesso nesta sexta-feira, confirma ainda que o Irã planeja instalar cerca de 6.000 novas centrífugas para enriquecer urânio em baixo nível.
Em uma entrevista publicada na quinta-feira pelo jornal britânico The Guardian, o chanceler Araqchi assegurou que o Irã não tem "intenções de ir além de 60% no momento".
Mas "no Irã está se debatendo, principalmente entre as elites (...) se deveríamos mudar nossa doutrina nuclear", já que até agora tem se mostrado "insuficiente na prática", acrescentou.
Esta insinuação provocou uma reação contundente do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que afirmou que fará "tudo o que for possível para impedir que o Irã se torne uma potência nuclear".
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