As negociações na Coreia do Sul para se chegar a um acordo sobre um tratado internacional inovador acerca da poluição plástica entram em um impasse em sua reta final neste sábado (30), com muitos países ameaçando uma retirada devido à falta de comprometimento de outros.

Desde a segunda-feira, cerca de 200 países estão representados na cidade sul-coreana de Busan, tentando chegar a um acordo sobre um tratado mundial destinado a combater a presença generalizada e contaminante dos plásticos na água, nos alimentos, nos oceanos e no corpo humano. 

No entanto, os esforços esbarram em vários pontos de discordância, em especial a ideia de reduzir a produção de novos plásticos e eliminar gradualmente os produtos químicos que são componentes do plástico e que se suspeita que são prejudiciais à saúde.

Mais de 100 países apoiam essas medidas e insistem em que qualquer tratado bem-sucedido deve incluí-las. Entretanto, uma dúzia de nações, em sua maioria produtoras de petróleo, incluindo Rússia e Arábia Saudita, se opõe a elas.

O resultado é que, a apenas um dia do encerramento da reunião, de acordo com o cronograma oficial, a minuta do tratado continua repleta de opiniões conflitantes. E a frustração entre as delegações continua aumentando. 

"A grande maioria dos delegados aqui presentes quer um tratado ambicioso", disse o chefe da delegação panamenha, Juan Carlos Monterrey Gomez. 

"Se não houver redução na produção, não haverá tratado. Não podemos deixar que algumas vozes muito altas atrapalhem o processo", acrescentou.

- Possível retirada -

Esta frustração é palpável na chamada Coalizão de Alta Ambição (HAC, na sigla em inglês), uma aliança internacional de países, incluindo muitos latino-americanos, comprometidos em atingir metas ambiciosas em questões ambientais. 

"Somos um grande grupo unido em torno de elementos concretos e estamos prontos para sair", disse à AFP uma fonte diplomática da aliança, que pediu anonimato. 

O diplomata advertiu que a exasperação é tamanha que "alguns países" estão pensando seriamente em organizar uma votação, ignorando o método tradicional de negociação na ONU, que consiste em buscar o consenso entre todas as partes. 

J.M. Bope Bope Lapwong, da delegação da República Democrática do Congo, declarou que essa possibilidade está sendo levantada como um "último recurso" para se chegar a um resultado. 

"Se não for possível chegar a um acordo, seremos obrigados a votar. Não podemos fazer toda essa jornada e viajar tantos quilômetros para depois fracassar", disse ele à AFP. 

A questão urgente é que, atualmente, 90% dos plásticos não estão sendo reciclados. E se as tendências atuais se mantiverem, a produção triplicará até 2060. 

As organizações ambientais incentivaram os países mais ambiciosos a realizarem esta votação se a negociação continuar em um impasse, e afirmam que Estados como Arábia Saudita e Rússia não ofereceram compromissos durante as negociações. Nenhuma dessas delegações respondeu às perguntas da AFP.

"Um punhado de governos [...] está olhando para trás e se recusando a tomar as medidas necessárias para fazer com que todos nós avancemos", argumentou Graham Forbes, do Greenpeace.

A opção, no entanto, é arriscada e pode não surtir o efeito esperado, de acordo com vários observadores.

"Não queremos sair do quadro da ONU", afirmou um alto funcionário do Ministério da Transição Ecológica da França. 

"Esperamos chegar a um acordo entre hoje e amanhã, e essa é a opção na qual estamos nos concentrando. Muita coisa pode acontecer em 24 horas", enfatizou.

bur-sah/kaf/avl/an/yr/rpr