Nas cidades próximas à Valência devastadas pelas enchentes que deixaram mais de 200 mortos na semana passada, o cheiro da lama gerou preocupação com as condições de saúde para as equipes de resgate e moradores.

"Não é ideal para a saúde" respirar estes odores, afirma à AFP Miguel Rodilla, biólogo da Universidade Politécnica de Valência, embora acredite que seriam necessárias "concentrações mais altas" de elementos em decomposição para torná-los tóxicos. 

Nas áreas inundadas, muitas pessoas estão usando máscaras e algumas reclamam de dores de cabeça e tonturas devido ao mau cheiro. 

"As evidências científicas nos dizem que há um risco de patógenos, especialmente na água parada, que podem desencadear distúrbios gastrointestinais ou pneumonia", explicou a ministra da Saúde, Mónica Garcia, na rádio pública RNE, depois que alguns casos de gastroenterite apareceram, mas descartando "um surto".

As autoridades regionais de saúde registraram "dois casos prováveis de leptospirose" em dois voluntários que limpavam as ruas. A doença, contraída por meio do contato com a urina de animais e que é comum em enchentes, não é grave, mas pode causar febre, diarreia e vômito. 

Sobre o processo que desencadeia o mau cheiro na área, Rodilla explicou que quando a lama perde água e seca "os processos de decomposição da matéria orgânica ficam sem oxigênio, e é aí que começam a aparecer esses cheiros com os quais não estamos tão acostumados".

"Há aquele cheiro de podridão, de coisas mortas, e não é necessariamente que haja cadáveres por perto, mas simplesmente que há matéria orgânica em decomposição", continuou.

- Odores nauseantes -

Em Valência, tudo o que apodrece sob a lama acrescenta ainda mais intensidade ao odor que causa até mesmo náusea.

"É carne podre", explica Toni Marco, funcionário de uma empresa privada de limpeza, apontando para um supermercado destruído na localidade de Sedaví.

Segundo ele, a carne "foi deixada no dia da inundação e eles não conseguiram retirá-la até agora".

Catarroja é uma cidade gravemente afetada pelas enchentes que mataram mais de 200 pessoas em 29 de outubro, e onde o mau cheiro é mais forte, segundo constatado pela AFP. 

"Cada decomposição de um elemento tem um cheiro diferente" e isso explica por que os odores "vão mudando" de rua para rua, disse Angel Aldehuela, um bombeiro de 51 anos da província de Sevilha. 

"Além disso, pode haver alguns animais mortos" sob a lama, acrescenta.

- Situação pode piorar -

De acordo com o Ministério da Saúde do governo regional valenciano, "não foi detectado nenhum surto de infecção nem qualquer situação relevante para a saúde pública" em geral, mas a ONG Greenpeace respondeu que, no caso da lama, fará "sua própria análise". 

Para Aldehuela, o mau cheiro em Catarroja "vai piorar, sem dúvida (...) Não sei por quanto tempo persistirá, pois obviamente dependerá dos recursos de limpeza disponíveis para estas pessoas, mas estamos falando de dias, com certeza, e também de algumas semanas", prevê.

As áreas inundadas terão mais preocupações com a saúde nos próximos dias e semanas devido à toda a água parada.

As autoridades regionais de saúde de Valência anunciaram que solicitaram aos 79 municípios afetados que implementassem "uma série de medidas de controle de mosquitos e outros insetos para evitar sua proliferação".

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