Uma exposição de pintores palestinos mostra em Amã, a capital da Jordânia, o sofrimento da população devido à guerra na Faixa de Gaza. 

Durante seis meses, os pintores conseguiram retirar do cercado território palestino suas pinturas e outras obras confiando-as a pessoas que saíram de Gaza pela passagem fronteiriça com o Egito em Rafah, até que Israel fechou a área em maio, quando tomou o controle do local. 

"As pinturas documentam a brutalidade da guerra e os massacres (...) carregam dor e tristeza, mas também refletem uma sólida determinação", disse Mohammad Shaqdih. 

Shaqdih é vice-diretor de Darat al-Funun, uma galeria de arte na capital jordaniana de Amã que exibe peças contrabandeadas em uma mostra intitulada "Sob Fogo". 

Embora as obras tenham conseguido sair do território assediado, os quatro artistas que as criaram - Basel al-Maqousi, Raed Issa, Majed Shala e Suhail Salem - não tiveram a mesma sorte. 

Eles continuam presos no estreito território onde o Exército israelense matou mais de 43.500 pessoas, em sua maioria civis, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, sob o comando do movimento islamista Hamas. 

A arte "retrata as realidades cotidianas da guerra e as adversidades que os artistas enfrentaram, quem foi deslocado e perdeu suas casas, disse Shaqdih. 

A galeria conhecia os artistas antes do início da guerra em 7 de outubro de 2023, quando o Hamas executou seu ataque sem precedentes contra Israel, uma ação que matou 1.206 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais. 

- "Pesadelos" -

"A linguagem da arte é universal. Por meio das pinturas, tentamos transmitir ao mundo exterior nossas vozes, nossos gritos, nossas lágrimas e os pesadelos que presenciamos diariamente", disse Maqousi, de 53 anos, à AFP por telefone de Gaza. 

A mostra inclui 79 obras feitas com materiais improvisados, incluindo embalagens de medicamentos e pigmentos naturais feitos com hibisco, romã e chá. 

Nos desenhos, veem-se pessoas sob bombardeio, famílias deslocadas em carroças puxadas por burros, tendas improvisadas, rostos cansados e cheios de medo, crianças cadavéricas agarradas às mães e homens vendados cercados por veículos militares. 

"Não consigo pintar com tintas e pigmentos caros porque há prioridades em Gaza, como a comida, a bebida, a segurança para mim e minha família", afirma um texto de Suhail Salem ao lado de seus desenhos feitos em cadernos escolares com lápis. 

Em uma carta exibida ao lado de suas obras, Majed Shala relata como deslocado para Deir al Balah, no centro de Gaza. Sua casas, ateliê e 30 anos de obras artísticas foram destruídos. 

"Quando começou a guerra, me senti completamente paralisado, incapaz de criar ou, até mesmo, em pensar em fazer arte", escreveu. 

Com o passar do tempo, "comecei a documentar as cenas reais do deslocamento e o exílio que afetaram cada parte de nossa vida cotidiana", acrescentou. 

Suas palavras aparecem junto de um pintura de um homem que abraça sua esposa em meio a um cenário de destruição. 

"Essas cenas me lembram das histórias de nossos anciãos sobre a Nkaba de 1948", ou "catástrofe", escreveu em referência ao êxodo de 760.000 palestinos na guerra que levou à criação de Israel.

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