Os líderes da Apec, a poderosa aliança Ásia-Pacífico que promove o livre comércio, reúnem-se em Lima para um encontro de cúpula marcado pela eleição de Donald Trump, que poderá alimentar a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China com os seus planos protecionistas. 

O presidente em fim de mandato dos Estados Unidos, Joe Biden, e o seu homólogo chinês, Xi Jinping, participarão na sexta e sábado na reunião do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), que reúne 21 economias que representam 60% do PIB mundial.

Biden se despedirá de seus parceiros da aliança antes de entregar as chaves da Casa Branca em janeiro a Trump, que retorna ao poder após a vitória em 5 de novembro. 

A anfitriã da Apec é a presidente do Peru, Dina Boluarte, cujo país é um aliado estratégico da China com um acordo de livre comércio. 

À margem da cúpula, Xi e Boluarte vão inaugurar o megaporto de Chancay, financiado por Pequim, em mais uma demonstração da crescente influência chinesa na América Latina, outrora região de domínio americano. 

No entanto, acima de tudo, é a vitória de Trump que paira sobre a cúpula.

Até o momento, não está confirmada a participação de nenhum enviado da futura administração republicana.

- "Guerra comercial" -

As promessas eleitorais de Trump de proteger a indústria americana e impor tarifas altas à China e ao México parecem um desafio para a região Ásia-Pacífico. 

"A vitória de Trump definitivamente impactará a cúpula da Apec porque tem uma narrativa bastante protecionista", disse à AFP Óscar Vidarte, professor de Relações Internacionais da Universidade Católica do Peru. 

"Para os Estados Unidos, a China é uma ameaça e isso é evidente porque Trump estabelece uma dinâmica de competição com Pequim", acrescentou o acadêmico e analista. 

O presidente eleito dos Estados Unidos anunciou que pretende fazer das tarifas alfandegárias a pedra angular da sua política econômica, o que poderá desencadear guerras comerciais com a China. 

Ele também prometeu que aplicará mais tarifas aos países que não cooperarem para impedir a imigração irregular, como o México, também membro da Apec. 

A China, entretanto, espera com cautela.

"O que os chineses aprenderam com Trump é que ele diz muitas coisas (...) porque é caprichoso, mas não necessariamente cumpre as suas ameaças", disse Hoo Tiang Boon, professor da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Singapura. 

Após a vitória de Trump, Xi defendeu que "a China e os Estados Unidos devem se dar bem na nova era".

A sua retórica, no entanto, pode levar os países do sudeste do Pacífico, como Indonésia ou Singapura, a tomar partido entre a China e os Estados Unidos. 

E pode inclusive aumentar "a presença e a influência da China na América Latina", disse à AFP Michael Shifter, do think tank Diálogo Interamericano, com sede em Washington.

- "Empoderar, incluir, crescer" -

A partir de quarta-feira, o Peru receberá ministros, empresários e executivos dos países que compõem a Apec, fórum criado em 1989. 

Sob o lema "Empoderar, Incluir, Crescer", a Apec 2024 em Lima planeja discutir comércio e investimento, inovação e digitalização, e crescimento sustentável para um desenvolvimento resiliente, segundo os organizadores. As suas decisões não são vinculativas. 

O governo mobilizou 13 mil policiais para garantir a segurança da cúpula, ameaçada por três dias de manifestações contra Boluarte, cuja impopularidade é superior a 90%, segundo as pesquisas.

A presidente do México, Claudia Sheinbaum, será uma das principais ausências da cúpula. O seu país não reconhece o governo de Dina Boluarte desde a saída do poder do esquerdista Pedro Castillo, em dezembro de 2022. 

Entre os líderes que confirmaram presença estão o presidente do Chile, Gabriel Boric; o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau; o presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol; o primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba; o presidente da Indonésia, Prabowo Subianto; o primeiro-ministro de Singapura, Lawrence Wong; o primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, e o presidente do Vietnã, Luong Cuong.

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