"É preciso conseguir os meios". O diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) defende na cúpula climática COP29 que o financiamento liberado em favor do clima também sirva para o desenvolvimento da energia nuclear.

Em uma entrevista à AFP, Rafael Grossi busca encorajar novos países — desde o Quênia até a Malásia — a acessarem essa fonte de energia, mas nega qualquer "corrida irresponsável para a energia nuclear civil".

PERGUNTA: O grande tema da COP29 é o financiamento. A energia nuclear deve ser incluída nos fundos para o clima?

RESPOSTA: "Tem que ser assim. Já em Dubai, durante a COP28, a comunidade internacional, e não apenas os países nucleares, concordou que era preciso acelerar a energia nuclear.

Acredito que é necessário obter os meios para realizar as coisas.

O diálogo com as instituições financeiras internacionais começou de uma maneira muito positiva. Neste verão, estive no Banco Mundial, e amanhã vamos nos reunir com o BERD [Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento], o Banco de Desenvolvimento da América Latina: várias instituições financeiras começam a perceber que os mercados impulsionam nessa direção.

Nós, como organismo — não somos um grupo de pressão comercial — tentamos atuar como uma entidade supervisora de segurança, proteção e não proliferação nuclear. Estamos aqui para dar garantias, fornecer um marco para projetos específicos".

P: Mas, por enquanto, os bancos internacionais ou multilaterais que você menciona não financiam diretamente a energia atômica...

R: "Existem barreiras culturais, políticas, ideológicas. Viemos de décadas de uma narrativa negativa sobre a energia nuclear, então precisamos avançar. Serei o primeiro a querer ver resultados rapidamente."

P: Esses financiamentos deveriam beneficiar os países do Sul que têm dificuldades para descarbonizar-se?

R: "Já seria algo muito bom. Existem muitos países que, com o surgimento dos pequenos reatores modulares, por exemplo, querem se equipar e procuram o nosso organismo, países como Gana, Quênia, Marrocos, que vêm e dizem 'para nós, seria uma boa solução'.

E há outros na Europa Oriental, por exemplo, que poderiam se beneficiar do financiamento europeu e para os quais a questão da segurança energética é muito importante, em um contexto de redução da dependência de um fornecedor específico. Depende do modelo. Na Ásia, há países como Malásia ou Filipinas, que realmente precisam disso."

P: Todos esses países conseguem desenvolver essas tecnologias complexas, que necessitam, por exemplo, de autoridades de segurança independentes para evitar acidentes?

R: "Isso faz parte do trabalho do organismo. Obviamente, o organismo não apoia nem promove programas ou projetos que não tenham, eu diria, a intensidade, os tecidos institucionais ou as tecnologias para acomodar um programa desse tipo.

Por isso, temos modelos de desenvolvimento.

Por exemplo, o caso dos Emirados Árabes Unidos é muito interessante. É um país com meios financeiros, mas que não tinha absolutamente nada em termos de infraestrutura, regulamentação nuclear, etc.

E nós, precisamente, temos programas estabelecidos para novos integrantes, para guiá-los passo a passo. São 19 etapas, até o estabelecimento de uma capacidade nuclear.

E é isso que fazemos. Não vamos, diria, em uma direção irracional, a corrida irresponsável para a energia nuclear civil. Mas há muitas coisas que podem ser feitas."

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