Líderes de todo o espectro político francês e do setor agropecuário estão se mobilizando com uma unanimidade excepcional contra a assinatura de um acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, em nome da defesa da agricultura e do meio ambiente.

A Comissão Europeia, órgão Executivo da UE, parece determinada a assinar antes do final do ano um acordo de livre comércio com o Mercosul - Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Bolívia - contra a posição da França, que rejeita o acordo nos termos atualmente propostos.

O primeiro-ministro francês, Michel Barnier, deve viajar nesta quarta-feira (13) a Bruxelas para defender a posição de seu país.

Antes de partir, reiterou durante uma reunião de gabinete "a absoluta oposição do governo a um tratado que colocaria em risco nossos pecuaristas", informou a porta-voz do governo, Maud Bregeon.

Na terça-feira, mais de 600 parlamentares franceses, entre deputados, senadores e eurodeputados, escreveram à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, para expressar sua oposição ao tratado.

Menos de um ano após uma mobilização histórica dos agricultores na França, com bloqueios de estradas, os sindicatos do setor estão convocando novas manifestações.

Os agricultores, que continuam denunciando a burocracia e os baixos rendimentos, estão furiosos com as más colheitas, as perdas relacionadas a doenças em animais e a perspectiva de assinatura do acordo com o Mercosul.

- O objetivo não é "parar" a França -

Pela manhã, a principal aliança sindical agrícola, formada pela FNSEA e os Jovens Agricultores (JA), lançou um chamado para uma mobilização nacional de agricultores "a partir de segunda-feira", 18 de novembro.

Querem, sobretudo, "fazer a voz da França ser ouvida" durante o "G20 no Brasil", em um momento em que, com sua oposição a este acordo, o país está relativamente isolado na cena europeia.

"A Europa não deve se tornar um escorredor e não pode importar produtos que não respeitam nenhuma de nossas normas", declarou Arnaud Rousseau, presidente da FNSEA, à rádio France Inter, antes de uma coletiva de imprensa à tarde na qual detalhou as ações previstas.

"Nosso objetivo não são as rodovias", especificou, acrescentando que tampouco é "parar" ou "matar de fome" a França.

Os principais sindicatos rejeitam o acordo com o Mercosul, sob o argumento de que os franceses encontrariam em seus pratos mais produtos que dizem não querer: cultivados com pesticidas proibidos na UE e criados com antibióticos que promovem o crescimento.

Os demais sindicatos conduzem suas próprias ações, sem se alinhar totalmente à agenda da FNSEA/JA.

A Coordenação Rural, o segundo maior sindicato representativo, promete "uma revolta agrícola" a partir de 19 de novembro, com um "bloqueio do transporte de alimentos".

Por sua vez, o sindicato minoritário Confederação Camponesa participou nesta quarta-feira de várias manifestações contra o Mercosul, sozinho ou com outras organizações, em Bruxelas, Paris e Aveyron.

Os ativistas se concentraram principalmente em frente ao McDonald's de Millau, em Aveyron, que foi "desmontado" por membros da Confederação em 1999, em uma ação que se tornou símbolo da luta camponesa antiglobalização.

"O objetivo também era nos antecipar um pouco em relação aos outros sindicatos para nos diferenciarmos e dizer que não somos contra as normas, mas sim contra o livre comércio, e que assim estamos há 25 anos", explicou à AFP Sascha Vue, porta-voz da Confederação Camponesa em Aveyron, no sul da França.

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