O magnata da mídia de Hong Kong e ativista pró-democracia, Jimmy Lai, disse nesta quarta-feira (20) que defendeu a "liberdade", ao depor em um julgamento contra ele por acusações de violação da lei de segurança nacional. 

Lai, de 76 anos, é o fundador do agora fechado jornal pró-democracia Apple Daily e um dos dissidentes mais conhecidos que foram perseguidos com esta lei imposta por Pequim após os protestos massivos que ocorreram em Hong Kong em 2019. 

Preso desde dezembro de 2020, o magnata é acusado de conluio com forças estrangeiras, acusação que pode levar à prisão perpétua, e de publicar conteúdo sedicioso. 

O caso centra-se em 161 artigos do seu jornal, fechado em 2021 após operações policiais e detenções dos seus líderes, que apoiaram os protestos muitas vezes violentos e criticavam fortemente Pequim. 

Também se baseia em declarações de Lai e publicações em suas redes sociais. 

"Os valores fundamentais do Apple Daily são atualmente os valores fundamentais do povo de Hong Kong... o Estado de Direito, a liberdade, a busca pela democracia", disse Lai ao tribunal.

"Participar na difusão da liberdade é uma ideia muito boa na minha opinião (…). Quanto mais você sabe, mais livre você é", argumentou. 

Mas garantiu que é contra a violência e que não defende a independência de Hong Kong, afirmando que esta possibilidade seria "muito louca para se pensar".

O seu depoimento surge apenas um dia depois de um tribunal de Hong Kong ter proferido sentenças de até 10 anos de prisão contra 45 ativistas pró-democracia, no maior julgamento já realizado sob a lei de segurança nacional. 

Depois de quase quatro anos atrás das grades, as condições de saúde e de prisão de Lai levantaram questões. Em outros julgamentos anteriores contra ele, dos quais todos resultaram em condenações, ele optou por não testemunhar. 

No entanto, Lai não parecia ter nenhum problema de saúde enquanto estava de pé no tribunal, escoltado por quatro agentes penitenciários e cumprimentando o público na galeria.

- "Merece admiração" -

No seu depoimento, afirmou que pediu ao então vice-presidente dos EUA, Mike Pence, que "expressasse" apoio a Hong Kong, durante uma reunião que tiveram em 2019. 

"Pedi (a Pence) que expressasse apoio a Hong Kong, que nos apoiasse (...), que dissesse algo em apoio", disse ele. 

Mas também observou que "nunca" pediu aos seus contatos no exterior que tomassem medidas contrárias à China ou modificassem a sua política em relação ao gigante asiático. 

Fora do tribunal, um homem de 80 anos, chamado Liu, disse à AFP que Lai "merece a nossa admiração".

"Ele tem muito dinheiro, poderia ter saído a qualquer momento, mas não o fez porque sentiu uma responsabilidade", afirmou Liu.

Tanto as autoridades locais como federais em Pequim definem Lai como "uma ferramenta política de forças estrangeiras que tentam deter a China através de Hong Kong".

O Ministério das Relações Exteriores da China chamou Lai de "agente e lacaio das forças anti-China".

A acusação alega que, em diversas ocasiões, Lai apelou aos Estados Unidos e a outros países para que impusessem sanções "ou realizassem outras atividades hostis" contra a China e Hong Kong. 

Após os protestos massivos de 2019, a China impôs uma lei de segurança nacional nesta ex-colônia britânica que, ao abrigo do acordo de devolução entre Pequim e Londres, gozava de liberdades civis e políticas excepcionais no país. 

Organizações de direitos humanos, opositores exilados e países ocidentais afirmam que esta lei esmagou a dissidência e o regime semiautônomo deste centro empresarial internacional.

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