O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta quarta-feira a diplomacia como prioridade para encerrar a guerra na Ucrânia, durante uma visita de seu colega Xi Jinping a Brasília que mostrou a sintonia entre os dois líderes do Sul Global.
"Em um mundo assolado por conflitos armados e tensões geopolíticas, China e Brasil colocam a paz, a diplomacia e o diálogo em primeiro lugar", disse Lula ao lado de Xi, após uma reunião no Palácio da Alvorada.
Os dois países apresentaram neste ano uma proposta de paz que o presidente russo, Vladimir Putin, considerou "equilibrada", mas que foi rejeitada pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. O plano também não recebeu o apoio dos Estados Unidos, nem da Europa.
Lula e a primeira-dama receberam o líder chinês no tapete vermelho do Palácio da Alvorada. Os dois líderes já haviam se encontrado nesta semana, na reunião de cúpula do G20.
O Brasil busca diversificar suas exportações, "com produtos brasileiros de maior valor agregado", disse o secretário para a Ásia Pacífico do Itamaraty, Eduardo Paes Saboia. Com US$ 160 bilhões (R$ 923,7 bilhões) em transações bilaterais em 2023, a China é o maior parceiro comercial do Brasil.
Os dois governos assinaram mais de 35 acordos bilaterais, em áreas como comércio, telecomunicações, agricultura, indústria e infraestrutura. Um deles contempla a possível entrada no mercado brasileiro da empresa chinesa de satélites SpaceSail, concorrente da Starlink, do bilionário americano Elon Musk, que fornece serviço de internet em áreas remotas do país.
- Preencher o vazio -
O retorno à Casa Branca de Donald Trump, que promete um retorno ao protecionismo econômico, poderia estreitar os vínculos de Pequim com países da região. "Xi Jinping busca claramente preencher o vazio que surgirá com a eleição de Trump, que não valoriza o multilateralismo", disse Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas.
O governo Lula, no entanto, tem sido ambíguo em relação à iniciativa "Belt and Road" para obras de infraestrutura, um pilar de Xi para expandir a influência da China no mundo, que tem sido adotada por outros vizinhos latino-americanos.
O Brasil "tenta equilibrar seu interesse em uma relação política, comercial e até militar cada vez mais forte com a China, com a manutenção de um bom relacionamento com os Estados Unidos", disse à AFP Evan Ellis, analista do think tank CSIS, em Washington.
- Provérbio chinês -
Natalia Molano, porta-voz em espanhol do Departamento de Estado, afirmou à AFP que Washington incentiva o Brasil a "avaliar com os olhos abertos os riscos e benefícios de uma aproximação com a China".
"Como diz um provérbio chinês: quem usa sapatos é o único que sabe se esses sapatos realmente lhe servem", disse uma fonte diplomática chinesa em resposta. "A China e a América Latina e o Caribe são os que têm a palavra final sobre o desenvolvimento do seu vínculo", acrescentou.
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