A conferência sobre mudança climática da ONU (COP29) terminou sem uma menção explícita à eliminação dos combustíveis fósseis, um revés considerado "preocupante" por muitos especialistas que o consideram "um retrocesso" na luta contra o aquecimento global. 

Além de um acordo sobre financiamento climático, obtido de última hora, negociadores de todo o mundo reunidos em Baku propuseram estudar a implementação do acordo histórico da COP28 em Dubai em 2023 sobre energias fósseis, principais causas da mudança climática.

Porém, no final, o texto que aborda esta questão não foi adotado e os países lamentaram que tenha sido eliminado. 

É "muito preocupante", disse à AFP François Gemenne, pesquisador belga de política climática e coautor do sexto relatório do painel de especialistas IPCC. 

"Poderíamos esperar pelo menos uma reiteração dos termos da COP28 e nem sequer conseguimos isso", lamentou.

"As conclusões de Baku não são tão ambiciosas como o momento exige", disse Laurence Tubiana, arquiteta do histórico Acordo de Paris de 2015. 

"Mais uma vez, as energias fósseis foram defendidas por uma presidência mal preparada da COP", afirmou. 

Em um sinal premonitório de fracasso, a COP29 foi inaugurada com um discurso do presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, que qualificou os combustíveis fósseis como um "presente de Deus".

- "Respiração assistida" -

Para Natalie Jones, especialista do Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (IISD), a decisão de Baku de excluir a questão dos combustíveis fósseis deixa o Acordo de Paris "em respiração assistida".

Isso é "um retrocesso", disse Jones, citando preocupações de que um ano de possíveis progressos será perdido e que no próximo ano haverá uma "liderança menos ambiciosa" em matéria de clima, especialmente com o retorno de Donald Trump à frente dos Estados Unidos. 

A preocupação aumenta porque na última cúpula do G20, realizada no Rio de Janeiro paralelamente à COP, o compromisso de eliminação dos combustíveis fósseis, que estava no texto ministerial de outubro, foi retirado da declaração final. 

Os europeus "queriam ver mais ambição" em Baku em termos de redução das emissões de gases de efeito estufa, disse Wopke Hoekstra, negociador da UE na cúpula do clima em Baku.

À medida que as negociações chegavam ao fim na manhã de domingo, vários países também manifestaram as suas objeções. 

"Há um ano assumimos compromissos históricos, especialmente para eliminar progressivamente os combustíveis fósseis. Viemos aqui para traduzir esse compromisso em ações significativas e simplesmente não o cumprimos", admitiu um delegado canadense.

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