As negociações para alcançar o primeiro tratado global contra a poluição plástica devem ser aceleradas "significativamente", alertou o diplomata equatoriano que as preside em meio à crescente frustração entre as delegações reunidas na Coreia do Sul. 

Representantes de quase 200 países estão reunidos desde segunda-feira (25) até 1º de dezembro naquela que deverá ser a última rodada do comitê intergovernamental da ONU, após dois anos de negociações. 

Em uma mensagem às delegações no terceiro dia de reuniões, o equatoriano Luis Vayas Valdivieso alertou que "o progresso tem sido muito lento". "Precisamos acelerar significativamente o nosso trabalho", afirmou. 

"Devemos acelerar os nossos esforços para chegar a um consenso para um instrumento vinculativo em 1º de dezembro", acrescentou. 

A advertência foi precedida por uma série de discursos frustrados de representantes de países como Fiji, Panamá, Noruega e Colômbia. 

"Enquanto estamos aqui debatendo semântica e procedimentos, a crise piora", criticou Juan Carlos Monterrey Gómez, representante especial do Panamá para as mudanças climáticas.

"Estamos aqui porque foram encontrados microplásticos nas placentas de mulheres saudáveis (...). Estamos criando uma geração que começa literalmente a sua vida contaminada, antes do seu primeiro suspiro", insistiu. 

No seu discurso aplaudido, também acusou os negociadores de "andar na ponta dos pés em torno da verdade, deixando de lado a ambição e ignorando a urgência que exige agir".

A diretora do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Inger Andersen, reconheceu a "frustração palpável" de muitos países. 

"É muito simples. Temos que entregar este tratado no domingo", disse.

- "Somos sinceros" -

Embora não tenham destacado publicamente nenhum país, diplomatas que falaram sob condição de anonimato disseram que Rússia, Arábia Saudita e Irã, produtores de matérias-primas utilizadas para fazer plástico, estavam dificultando o progresso. 

"Somos sinceros, honestos e estamos prontos para cooperar", disse o representante iraniano Masud Rezvanian Rahaqi. "Mas não queremos ser culpados por bloquear as negociações com táticas sujas".

Também respondeu às acusações "inaceitáveis" o representante russo Dmitri Kornilov, que apelou aos delegados para deixarem de lado as partes mais controversas do projeto. 

"Se levarmos isso a sério, devemos nos concentrar em disposições que sejam aceitáveis para todas as delegações", disse ele.

A principal divergência nas negociações centra-se na questão de saber se o tratado deve abordar todo o ciclo de vida do plástico, por exemplo, limitando a sua produção, os seus precursores químicos ou alguns produtos considerados desnecessários, como muitos artigos de uso único. 

Em 2019, a produção global de plástico aumentou para 460 milhões de toneladas, o dobro do que era em 2000, mas três vezes menos do que o esperado em 2060, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

No entanto, apenas 9% deste plástico foi reciclado. 

A decisão da ONU, que lançou este processo de negociação, falava explicitamente do ciclo de vida completo do plástico e do consumo sustentável, mas países como Rússia, Arábia Saudita e Irã opõem-se a limitar a produção.

- Maioria ou consenso? -

Outros pontos espinhosos são o apoio financeiro aos países em desenvolvimento para implementar um eventual tratado ou o próprio método de aprovação de um acordo. 

Embora seja habitual na ONU tomar decisões por consenso, há temores de que seja impossível chegar a uma posição unânime. 

O diretor de política global de plásticos da ONG Fundo Mundial para a Natureza (WWF), Eirik Lindebjerg, destacou que apesar de tudo, o consenso está sendo reforçado entre uma "maioria" de países, aos quais apelou que "não cedam".

Um tratado vinculativo "apoiado pela maioria dos governos pode ser mais eficaz do que um tratado fraco e voluntário apoiado por todos os governos", disse ele. 

Um diplomata europeu, que falou sob condição de anonimato, também foi a favor desta fórmula: "A chave do sucesso é criar um acordo que tenha o apoio da grande maioria", disse à AFP. 

Isso "forçará o pequeno grupo [de países rebeldes] a tentar destruí-lo ou a ser uma minoria manifestamente insatisfeita contra um tratado que eventualmente assinarão".

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