O primeiro-ministro francês, Michel Barnier, optou, nesta segunda-feira (2), por adotar um polêmico procedimento parlamentar para aprovar parte do orçamento sem submetê-lo à votação, uma decisão que expõe o governo a uma moção de censura e ameaça derrubá-lo com os votos da extrema direita e da esquerda.
"Agora cabe a vocês, deputados, decidirem se nosso país adota textos financeiros responsáveis, essenciais e úteis para nossos concidadãos, ou se estamos entrando em território desconhecido", declarou o chefe de governo diante da Assembleia Nacional, a câmara baixa do Parlamento.
A segunda maior economia da União Europeia está imersa em uma crise política desde que o presidente de centro-direita, Emmanuel Macron, decidiu realizar em junho as eleições legislativas previstas somente para 2027, o que gerou um parlamento sem maiorias bem definidas.
O conservador Michel Barnier tem feito, nos últimos dias, diversas concessões à extrema direita, da qual depende a sobrevivência do governo, para evitar que seus deputados apoiem uma moção de censura da esquerda durante o processo de aprovação dos orçamentos de 2025.
No entanto, o partido de Marine Le Pen indicou nesta segunda-feira que apresentará uma moção de censura própria e que seus deputados votarão a favor de todas as moções, "venham de onde vierem", em referência à esquerda.
A adoção de uma moção de censura na França necessita dos votos de pelo menos 288 deputados. Se a extrema direita e toda a esquerda votarem a favor, o governo minoritário de centro-direita cairá.
Após o anúncio de Barnier, a França Insubmissa (LFI, esquerda radical) anunciou que apresentaria uma moção de censura.
O primeiro-ministro "enfrentará nesta quarta-feira tanto a desonra quanto a censura", disse Mathilde Panot, chefe dos deputados da esquerda radical.
Trata-se da primeira vez que Barnier recorre ao artigo 49.3 da Constituição, que permite adotar uma lei sem passar pela votação dos deputados.
A queda do governo francês aprofundaria a crise política. Algumas vozes, até mesmo da direita governante com Macron, consideram que a única saída seria então a renúncia do presidente, cujo mandato termina em 2027.
O processo de adoção do orçamento na França é complexo, sendo a votação desta segunda-feira a primeira de uma longa série até meados de dezembro.
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