Políticos de oposição na Coreia do Sul apresentaram nesta quarta-feira (4/12) uma moção pedindo o impeachment do presidente, Yoon Suk Yeol, depois que ele tentou impor uma lei marcial que colocaria a nação sob controle dos militares.
A medida causou uma reação pública negativa muito forte. Poucas horas depois, parlamentares votaram contra a lei marcial, e o presidente recuou em sua decisão.
Os parlamentares votarão a moção de impeachment nos próximos dias. Caso ela seja aprovada, Yoon será julgado em um tribunal constitucional. São necessários 200 votos favoráveis dos 300 parlamentares para aprovar a moção.
O tribunal constitucional é um órgão com nove integrantes que supervisionam o governo da Coreia do Sul. Para remover o presidente do cargo, são necessários seis votos neste tribunal.
O ministro da Defesa, Kim Yong-hyun, que também era alvo de pedidos de impeachment, pediu demissão de seu cargo nesta quarta-feira. Diversos outros integrantes do governo também pediram demissão: o chefe de gabinete, o conselheiro de segurança nacional e o diretor de política nacional. Yoon ainda precisa aceitar os pedidos.
Reação de sul-coreanos
Os sul-coreanos têm manifestado preocupação, choque e confusão depois que o presidente mergulhou o país em caos político — declarando lei marcial e recuando horas depois, devido à repercussão negativa.
Em um pronunciamento na terça-feira, ao declarar a lei marcial, o presidente Yook Suk Yeol disse que era necessário colocar o país sob controle dos militares para proteger a nação das forças comunistas da Coreia do Norte e para eliminar os elementos anti-Estado. Mas a medida foi rapidamente rejeitada pelos parlamentares do país.
Moradores de Seul contaram à BBC que ficaram preocupados com os eventos do recentes.
Ra Ji-soo, residente da capital, disse ter ouvido helicópteros sobrevoando sua casa na terça-feira. Ela disse que sentiu que "o golpe de Estado de Mianmar estava acontecendo aqui na Coreia. Estou preocupada".
Após o anúncio de Yoon, os militares do país declararam a suspensão de todas as atividades parlamentares.
Imagens mostraram forte presença policial do lado de fora da Assembleia Nacional (o parlamento sul-coreano), no distrito de Yeongdeungpo em Seul, com troca de empurrões entre a polícia e manifestantes. Os parlamentares conseguiram entrar no prédio e votar contra a medida.
Apesar do pronunciamento de Yoon, rapidamente ficou claro na Coreia do Sul que a medida drástica era uma resposta a diversos eventos políticos que haviam desestabilizado a sua liderança.
Uma sul-coreana que não quis revelar seu nome à BBC, por medo de retaliação, disse que Yoon estava "tentando restringir as liberdades de todo mundo e o direito de expressar preocupações e julgamentos em relação ao governo".
"Eu tenho muito medo que a Coreia do Sul vire uma nova Coreia do Norte", disse ela.
Outra moradora de Seul, Kim Mi-rim, disse à BBC que ela pegou às pressas um kit de emergência, temendo que a situação pudesse piorar.
A BBC também falou com jornalistas em Seul que estavam informando a população sobre como permanecer seguro durante a lei marcial, já que todas as atividades jornalísticas ficariam restritas e sob controle do governo.
Outras pessoas temiam sofrer indiretamente com repercussões do caos político.
"Como pode uma pessoa que diz trabalhar pelo país ser tão imprudente, agindo por impulso", disse Don Jung Kang, um pequeno comerciante, à BBC.
"Como autônomo, acho que terei muito prejuízo no meu negócio. Só pelas falas dele, a moeda nacional desabou. Isso vai afetar bastante a importação de materiais."
Na terça-feira à noite, o líder do principal partido de oposição da Coreia do Sul, o Partido Democrata, pediu aos legisladores e ao público que se reunissem do lado de fora do prédio da Assembleia Nacional em Seul.
Os manifestantes gritavam "não à lei marcial" e "derrubem a ditadura" enquanto as sirenes de dezenas de carros de patrulha da polícia soavam.
Confrontos entre a polícia e os manifestantes foram vistos em transmissões ao vivo nas primeiras horas de quarta-feira. Quando o presidente recuou da medida, houve cenas de júbilo do lado de fora do parlamento.
Juye Hong, uma estudante universitária sul-coreana, disse que sua família e amigos estavam "enviando mensagens de texto freneticamente, tentando entender a situação".
Ela disse que a falta de clareza deixou o anúncio "ainda mais angustiante".
"As pessoas estão dizendo que há soldados pela cidade e tanques pelos principais distritos", disse Juye.
"Meus amigos e eu não sabemos se as escolas estarão abertas amanhã, como a queda do valor da moeda e o aumento das taxas de câmbio afetarão a economia e se os jovens poderão ser recrutados [para o Exército]."