O objetivo da ofensiva relâmpago dos rebeldes liderados pelos radicais islamistas do Hayat Tahrir al Sham (HTS) na Síria é "derrubar o regime" de Bashar al-Assad, afirmou nesta sexta-feira (6) o líder do grupo, no momento em que os insurgentes se aproximam da cidade de Homs.

Em menos de uma semana, a ofensiva em várias cidades cruciais infligiu um duro revés ao governo do presidente Assad, que tenta conter seu rápido avanço.

A ONG Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) relatou nesta sexta-feira bombardeios aéreos contra uma ponte de rodovia estratégica entre Hama e Homs, a quase 150 km da capital Damasco.

O Exército de Damasco anunciou que, com a ajuda de caças sírios e russos, atacou "veículos e concentrações terroristas" na província de Hama. 

Homs é a última grande cidade localizada no eixo que leva a Damasco. Depois de conquistar Aleppo e Hama, caso os rebeldes assumam o controle de Homs, restariam apenas a capital e a costa do Mediterrâneo sob administração de Assad.

"Quando falamos de objetivos, a finalidade da revolução continua sendo derrubar este regime. Temos o direito de utilizar todos os meios disponíveis para alcançar esta meta", declarou o líder dos rebeldes islamitas, Abu Mohamed al-Jolani, em uma entrevista ao canal CNN publicada nesta sexta-feira. 

Nas últimas horas, os rebeldes "entraram nas cidades de Rastan e Talbiseh", situadas na província de Homs, diante da ausência total das forças do regime de Assad, segundo o OSDH. Os insurgentes estavam a apenas cinco quilômetros da terceira maior cidade da Síria. 

Segundo a ONG, com sede no Reino Unido e com uma grande rede de fontes na Síria, o controle de Homs permitiria aos rebeldes "cortar a principal rodovia que leva à costa síria", reduto da minoria alauita do presidente Assad. 

Dezenas de milhares de habitantes de Homs, a maioria membros da comunidade alauita, fugiram na quinta-feira à noite para a costa oeste, depois que os rebeldes conquistaram Hama, a quarta maior cidade do país, localizada na estrada que leva a Homs, quase 40 km ao sul, e a Damasco, segundo o OSDH.

Os rebeldes iniciaram uma ofensiva surpresa em 27 de novembro a partir de seu reduto em Idlib, no noroeste, e tomaram o controle de dezenas de localidades, da maior parte de Aleppo, no norte, e de Hama.

O OSDH afirmou nesta sexta-feira que "caças efetuaram vários bombardeios contra a ponte Al Rastan, na rodovia Homs-Hama [...] tentando cortar a estrada" entre as duas cidades.

- "Medo" em Homs -

As Forças Armadas do governo também enviaram reforços para Homs, onde os habitantes temem o avanço dos rebeldes.

"O medo domina a cidade", afirmou à AFP Haidar, morador de um bairro alauita entrevistado por telefone. Ele disse que pretende fugir o mais rápido possível para Tartus, na costa oeste, para onde já enviou seus pais.

A coalizão rebelde anunciou no Telegram a "libertação total de Hama" e a libertação de "centenas de prisioneiros injustamente detidos" na penitenciária central da cidade.

Os confrontos registrados desde o início da ofensiva rebelde são os primeiros desta magnitude desde 2020 na Síria, onde uma guerra civil devastadora que deixou meio milhão de mortos teve início em 2011.

O país está dividido em várias zonas de influência, onde os beligerantes contam com o apoio de diversas potências estrangeiras.

Desde 27 de novembro, as hostilidades deixaram pelo menos 826 mortos, incluindo 111 civis, segundo o OSDH. Do total, 222 combatentes morreram na terça-feira nas imediações de Hama, informou a ONG.

A ONU afirmou que os combates na Síria deixaram 280.000 deslocados. O secretário-geral da organização, António Guterres, pediu o fim da "massacre" na Síria, fruto de um "fracasso coletivo crônico" em alcançar uma solução política para o conflito.

Após o início da ofensiva rebelde, a Rússia, que possui bases na Síria, efetuou bombardeios aéreos nos setores controlados pelos insurgentes, em apoio às forças governamentais.

- Não haverá "vingança" -

Com o apoio militar da Rússia, do Irã e do movimento libanês pró-iraniano Hezbollah, o regime sírio reverteu o curso da guera em 2016 e recuperou grande parte do território do país.

Enfraquecido por dois meses de guerra aberta com Israel, o Hezbollah reafirmou na quinta-feira seu apoio ao governo de Bashar al-Assad.

Em Aleppo, a grande cidade do norte, os moradores que retornaram com as tropas rebeldes celebraram o reencontro com suas famílias.

"Uma alegria indescritível", disse Mohamed Joma, 25 anos, que fugiu e deixou a família para trás quando o regime recuperou o controle da cidade em 2016.

O líder do HTS afirmou em uma mensagem que não haverá "vingança" em Hama, depois de anunciar que seus combatentes entraram na cidade "para fechar a ferida aberta há 40 anos".

Hama foi cenário, em 1982, de um massacre executado pelo Exército do regime do pai de Bashar al-Assad, que reprimiu uma insurreição da Irmandade Muçulmana.

bur-ila/bfi/bc/pc/fp/dd