O magnata Rupert Murdoch perdeu uma batalha na guerra por sua sucessão, depois que uma decisão judicial o impediu de alterar seu contrato de fideicomisso para deixar seu filho, Lachlan, à frente de seu império midiático após sua morte, reportou o New York Times nesta segunda-feira (9).
Um comissário de sucessões em Nevada concluiu em uma decisão datada de sábado que Murdoch, de 93 anos, e Lachlan agiram de "má-fé" ao tentarem modificar os estatutos do documento que outorga, após sua morte, as rédeas do poderoso conglomerado a seus quatro filhos mais velhos, em partes iguais, segundo o jornal americano, que citou a decisão sob segredo de justiça.
O caso foi discutido a portas fechadas em um tribunal de Reno. Adam Streisand, advogado de Murdoch, não respondeu ainda aos pedidos de informação da AFP.
Murdoch buscava garantir controle absoluto a Lachlan, a quem seu pai colocou, em 2023, à frente da Fox News e da News Corp -- que reúne o Wall Street Journal e outros meios britânicos e australianos --, algo ao qual seus filhos James, Prudence e Elisabeth, se opõem.
A disputa, que lembra as tensões da bem-sucedida série da HBO "Succession" [em parte inspirada na história da família], é crucial para determinar o futuro deste influente grupo de comunicações.
O interesse do magnata é preservar a tendência conservadora de seu império, com a qual Lachlan está alinhado.
Seus três irmãos são vistos como mais moderados.
James Murdoch, que deixou a News Corp em 2020, apoiou a democrata Kamala Harris na eleição presidencial americana.
O canal Fox News, o carro-chefe do grupo, está na vanguarda do setor conservador na batalha ideológica nos Estados Unidos.
Foi acusado de alimentar desinformação sobre as vacinas contra a covid-19 e de ter amplificado as alegações de que a eleição presidencial de 2020 foi manipulada em detrimento de Donald Trump.
Esta inclinação impactou as finanças do veículo.
Em abril de 2023, a Fox News aceitou pagar 787,5 milhões dólares (R$ 4,7 bilhões) à fabricante de urnas eletrônicas Dominion Voting Systems, que estava no centro das teorias conspiratórias do trumpismo sobre a eleição presidencial de 2020, que foram repercutidas pela emissora.
- 'Farsa cuidadosamente elaborada' -
Murdoch estabeleceu o contrato de fideicomisso inicialmente para garantir que seus quatro filhos mais velhos herdassem seu império e decidissem juntos o seu futuro.
Mas seu recente interesse por preservar a lucrativa linha política de seus meios, especialmente da Fox News, o levou a priorizar Lachlan como sucessor, sem afetar economicamente nenhum de seus herdeiros.
Para modificar o contrato, Murdoch precisava provar que as mudanças eram necessárias para favorecer seus beneficiários.
Não era o caso deste pedido, de acordo com a posição do comissário Edmund J. Gorman Jr., informou o New York Times.
De acordo com o jornal, Gorman Jr. emitiu uma decisão de 96 páginas na qual caracterizou a ação de Murdoch como "uma farsa cuidadosamente elaborada" para "consolidar permanentemente as funções executivas de Lachlan Murdoch" apesar das "repercussões que tal controle teria sobre as empresas ou os beneficiários".
Neste tipo de procedimento, após ouvir os argumentos de todas as partes, o comissário de sucessões emite sua recomendação a um tribunal que decidirá se as aceita ou não.
A equipe legal de Murdoch vai recorrer da decisão, disse o New York Times.
A News Corp, cujo faturamento superou os 10 bilhões de dólares (R$ 60,5 bilhões) em 2023, também está presente no mundo editorial com HarperCollins, e nos anúncios imobiliários.
O conglomerado midiático é visto como fator influente em eventos políticos como o Brexit e a popularidade de Trump nos Estados Unidos.
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