A prisão de Luigi Mangione, suspeito de assassinar o CEO da empresa de planos de saúde UnitedHealthcare, Brian Thompson, foi recebida com "choque" por sua família, uma das mais tradicionais e influentes do Estado americano de Maryland.
Os Mangione controlam um império imobiliário e empresarial que inclui country clubs, lares de idosos, estações de rádio, campos de golfe, hotéis, resorts e uma fundação filantrópica que leva o nome da família.
Os motivos que levaram ao assassinato de Thompson, morto a tiros em Nova York, na semana passada, ainda estão sob investigação, mas o Departamento de Polícia da cidade disse que Luigi carregava um manifesto escrito à mão em que denunciava empresas do setor de saúde.
Antes da identificação do suspeito, muitos questionavam se o atirador não seria alguém que teve tratamento negado por um plano de saúde e não tinha condições de arcar com os custos.
No entanto, a família de Luigi não apenas tem boas condições financeiras, mas também um histórico de doações a diversas empresas e instituições do setor de saúde.
- Melhor aluno da turma, surfista e sem inimigos: quem é o suspeito de matar o CEO Brian Thompson
- O que é a 'arma fantasma' que polícia acredita ter sido usada em morte do CEO Brian Thompson nos EUA
- Como foi operação de 6 dias até encontrar o suspeito pela morte de CEO em Nova York
Entre os beneficiados pela família estão o Instituto Kennedy Krieger, o Hospital Infantil de Pesquisa St. Jude e o Centro Médico St. Joseph, da Universidade de Maryland.
O Centro Médico da Grande Baltimore (cidade mais populosa de Maryland), hospital onde Luigi e outros membros da família nasceram e cuja unidade de obstetrícia de alto risco foi batizada de Mangione, recebeu mais de US$ 1 milhão (mais de R$ 6 milhões) em contribuições.
Um dos primos do suspeito, Nino Mangione, é um parlamentar republicano, membro da Câmara dos Delegados do Estado (a assembleia estadual local).
Na segunda-feira (9/12), poucas horas depois do anúncio da prisão de Luigi, Nino Mangione postou em suas redes sociais uma declaração em nome da família.
"Infelizmente, não podemos comentar sobre as notícias relacionadas a Luigi Mangione. Só sabemos o que lemos na mídia. Nossa família está chocada e devastada pela prisão de Luigi. Oferecemos nossas orações à família de Brian Thompson e pedimos que as pessoas orem por todos os envolvidos", diz o texto.
"Estamos devastados com esta notícia", conclui o post, que foi recebido com dezenas de mensagens de apoio aos Mangione.
As origens da fortuna
O patriarca da família, Nicholas Mangione Sr., avô de Luigi, era filho de imigrantes italianos da região da Sicília e veterano da Segunda Guerra Mundial.
Nick, como era chamado, nasceu em 1925 em uma família pobre no bairro de Little Italy (Pequena Itália), em Baltimore, e fez fortuna no mercado imobiliário ao lado da esposa, Mary Cuba Mangione.
Entre as propriedades construídas ou adquiridas pelo casal em Maryland estão hospitais, prédios de escritórios, casas de repouso e três estações de rádio, entre elas a WCBM-AM 680, de linha editorial conservadora.
Em 1978, eles compraram o Turf Valley Country Club e transformaram a propriedade em um resort luxuoso com hotel, campo de golfe, spa, centro de conferências e comunidade residencial.
Oito anos depois, adquiriram o Hayfields Country Club, que inclui campo de golfe e centro de eventos e atualmente, segundo documentos públicos, tem como proprietários os pais de Luigi, Louis e Kathleen Mangione.
Em entrevista ao jornal The Baltimore Sun, em 1995, Nick falou sobre sua trajetória de sucesso, da pobreza na infância, da morte do pai quando tinha 11 anos de idade, e de como se tornou um milionário.
"Em que outro país você pode fazer isso? Não consigo pensar em nenhum", disse.
Nick e Mary eram católicos e doaram milhões de dólares para várias instituições religiosas e iniciativas da Igreja.
O patriarca morreu em 2008, após sofrer um derrame. Mary morreu no ano passado, aos 92 anos de idade.
Em seu obituário, a Universidade Loyola de Maryland descreveu a avó de Luigi como "uma antiga benfeitora" conhecida por sua atuação em diversas instituições na comunidade de Baltimore
Em 2010, Mary recebeu a Medalha Presidencial, honraria concedida pela universidade a "para mostrar apreço e gratidão a amigos e benfeitores".
"Ela serviu como membro de vários conselhos na área de Baltimore, como o Museu de Arte Walters, a American Citizens for Italian Matters (organização sem fins lucrativos que promove a cultura e herança italiana por meio de bolsas de estudo e projetos de caridade), o Conselho de Turismo do Condado de Howard e a Ordem dos Filhos da Itália na América (principal organização de descendentes de origem italiana nos EUA)", diz o texto.
Segundo o obituário, Mary também serviu como curadora da Companhia de Ópera de Baltimore e integrava a John Early Society, sociedade composta por doadores que "desfrutam de um relacionamento especial com a universidade".
O texto ressalta que Mary e Nicholas "financiaram a aquisição da Bíblia de Saint John, que está em exposição permanente na biblioteca (da Loyola)" e que "a piscina Mangione no Centro Aquático da universidade leva o nome da família"
A universidade ressaltou ainda que o casal estabeleceu a Fundação Família Mangione, "que fornece apoio filantrópico e recursos para organizações sem fins lucrativos na área metropolitana de Baltimore".
"A Loyola é uma instituição mais forte graças às formas transformadoras com que Mary e sua família contribuíram para nossa universidade católica jesuíta", disse um dos vice-presidentes da instituição, Brian Oakes, no obituário.
Futuro promissor
Siga nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia
Nick e Mary tiveram 10 filhos, entre eles Louis, o pai de Luigi, que é conhecido como Lou e é um dos administradores das empresas da família. Também deixaram 37 netos, entre eles Luigi.
Aos 26 anos de idade, herdeiro de uma família rica e respeitada, o suspeito parecia ter um futuro promissor.
Sua mãe, Kathleen, também vem de outra família tradicional de origem italiana de Maryland. Uma de suas irmãs, MariaSanta, é médica, e a outra, Lucia, é artista visual.
Luigi estudou em uma das escolas particulares mais exclusivas de Baltimore, a Gilman School, onde alunos pagam cerca de US$ 38 mil (aproximadamente R$ 229 mil) por ano.
Na época, Luigi atuou como voluntário na rede de lares de idosos da família, Lorien Health Services.
Ele terminou o Ensino Médio em 2016 e foi orador da turma na cerimônia de formatura. Ingressou na Universidade da Pensilvânia, uma das mais prestigiosas do país, onde se formou com distinção acadêmica e também concluiu mestrado, com diplomas em engenharia e ciências da computação.
A polícia ainda não sabe o que levou o jovem a executar Brian Thompson em uma calçada em frente a um hotel em Manhattan, onde o executivo chegava para uma conferência da UnitedHealthcare.
O crime, na última quarta-feira (4/12), desencadeou uma caçada policial de vários dias. Luigi Mangione só foi preso após ser reconhecido em um McDonald's no Estado da Pensilvânia.
Desde a prisão, vários jornalistas e fotógrafos se reúnem em frente ao Hayfields Country Club na tentativa de entrevistar algum membro da família, mas o acesso tem sido bloqueado pela polícia.
Em um post posteriormente apagado no Instagram, uma de suas irmãs compartilhou uma foto com Luigi com a legenda "Rezando por você".