Milhares de sírios tomaram as ruas de Damasco, nesta sexta-feira (13), para comemorar a "vitória da revolução" após a queda do presidente Bashar al Assad, deposto após uma ofensiva-relâmpago lançada por uma aliança de grupos rebeldes liderada por islamistas.
"Quero cumprimentar o povo sírio pela vitória da revolução e o convido a ir às ruas para expressar sua alegria", declarou Abu Mohamed al Jolani, chefe do grupo islamista Hayat Tahrir al Sham (HTS), que liderou a coalizão rebelde.
A Turquia, vizinha da Síria que apoiou um dos grupos rebeldes e comemorou a queda de Assad, anunciou que reabrirá no sábado a embaixada em Damasco, capital síria. Uma delegação do Catar viajará no domingo à Síria para preparar a reabertura de sua embaixada, indicou um diplomata do país.
A aliança tomou a capital, Damasco, no domingo, após uma ofensiva de 11 dias que tirou do poder o clã Assad, que governou o país com mão de ferro por 50 anos.
Milhares de homens, mulheres e crianças se reuniram nesta sexta-feira no centro de Damasco e em outras cidades sírias como Aleppo, no norte, e Sueida, no sul, em um ambiente festivo e com a bandeira de três estrelas, símbolo do movimento pró-democracia de 2011, adotada pelas novas autoridades.
"Os Assad, pai e filho, nos oprimiram, mas nós libertamos nosso país da injustiça", comemorou um policial de 47 anos em Aleppo.
"Hoje é a sexta-feira da vitória", declarou Tesnim Chelha em meio a comemorações em Homs.
"Unido, unido, unido, o povo sírio está unido", entoaram os fiéis na Mesquita dos Omíadas, em Damasco, onde esteve o primeiro-ministro encarregado da transição até 1º de março, Mohammed al Bashir.
- Evitar um ressurgimento do EI -
O clima de euforia, no entanto, também foi marcado pelo pesar.
Dezenas de fotos de pessoas desaparecidas forçadamente pelas antigas forças de segurança foram expostas nas paredes da mesquita, um lembrete da dolorosa busca de seus familiares após décadas de repressão.
O país, multiétnico, multiconfessional e dividido enfrenta diversos desafios. Mas as novas autoridades tentam transmitir mensagens de calma, enquanto a comunidade internacional se mobiliza.
Os líderes dos países do G7, que reúne as principais potências ocidentais, disseram que apoiarão um governo "inclusivo" e exigiram respeito aos direitos das mulheres e das minorias.
A Jordânia sediará no sábado uma cúpula sobre a Síria com ministros e altos representantes diplomáticos de Estados Unidos, Europa, países árabes e Turquia.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, reiterou no Iraque e na Turquia que os Estados Unidos trabalharão para evitar o ressurgimento do grupo jihadista Estado Islâmico (EI).
Na Jordânia, fez um apelo por uma "transição inclusiva", que leve a um governo "responsável e representativo".
O HTS afirma que rompeu com o jihadismo, mas continua na lista de organizações classificadas como "terroristas" por vários países ocidentais, incluindo os Estados Unidos.
Um comandante do HTS, Abu Hassan Al Hamwi, declarou ao jornal britânico The Guardian que a ofensiva foi planejada há um ano, mas que o grupo só considerou que era o momento de iniciá-la no fim de novembro.
Vários atores apoiados por diferentes potências participaram da guerra na Síria, que deixou mais de meio milhão de mortos e forçou à fuga cerca de 6 milhões de pessoas, um quarto da população do país.
- Ponte aérea humanitária da UE -
No nordeste da Síria, a Turquia apoia as forças rebeldes engajadas contra as Forças Democráticas Sírias (SDF), dominadas por curdos e apoiadas pelos EUA contra o EI.
A Turquia "nunca permitirá fraqueza na luta contra" o EI, garantiu o presidente Recep Tayyip Erdogan a Blinken na quinta-feira. Mas ressaltou sua determinação em impedir que o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK, separatista) se aproveite da situação na Síria, referindo-se ao grupo que a Turquia considera terrorista e núcleo das SDF.
O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Hakan Fidan, afirmou que seu país convenceu a Rússia e o Irã, aliados de Assad, a não intervir durante a ofensiva rebelde. "Os russos e os iranianos viram que já não havia nenhum sentido intervir", disse.
O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, ordenou nesta sexta-feira que o Exército "se preparasse para permanecer" durante todo o inverno boreal (verão no hemisfério sul) na zona de contenção entre Israel e Síria nas Colinas de Golã, que foram parcialmente anexadas por Israel.
Nos últimos dias, o Estado israelense realizou centenas de ataques na Síria contra instalações militares estratégicas. Seu objetivo é garantir que os equipamentos do exército sírio não caiam nas "mãos erradas", afirmou Blinken.
A UE anunciou nesta sexta-feira que implementará uma "ponte aérea" para entregar 50 toneladas de ajuda humanitária à Síria, a primeira operação de ajuda europeia desde a queda de Assad.
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