O enviado da ONU para a Síria, Geir Pedersen, apelou neste domingo (15) ao envio de ajuda humanitária e que sejam evitados atos de “vingança”, depois que Bashar al Assad foi deposto por uma aliança liderada por um grupo islamista.
“Devemos garantir que a Síria receba ajuda humanitária imediata à população e a todos os refugiados que desejam voltar”, após mais de meio século sob a dinastia Assad, declarou Pedersen em Damasco.
Ainda não se sabe se o enviado da ONU se reunirá com Abu Mohammed al Jolani, líder do grupo Hayat Tahrir al Sham (HTS), que liderou a coligação rebelde que derrubou o regime em 8 de dezembro.
Os novos líderes da Síria enfrentam agora o desafio de tranquilizar a comunidade internacional. O novo primeiro-ministro interino, Mohamad al Bashir, prometeu um “Estado de direito”.
A maior preocupação é o passado jihadista do grupo sunita HTS. Embora al Jolani tenha se distanciado de organizações como a Al-Qaeda, se livrado do turbante, aparado a longa barba e moderado o discurso, o grupo ainda é classificado como organização “terrorista” por várias potências ocidentais.
A queda de Assad incentivou o retorno de muitos exilados pelo conflito que eclodiu em 2011, quando o governo reprimiu uma onda de protestos pacíficos.
Pelo menos 7.600 sírios retornaram da Turquia entre 9 e 13 de dezembro, informaram as autoridades turcas.
O ministro da Defesa turco, Yasar Güler, indicou neste domingo que seu país está disposto a fornecer ajuda militar à Síria se o novo governo solicitar.
O novo Executivo, destacou o ministro, comprometeu-se a “respeitar todas as instituições governamentais, as Nações Unidas e outras organizações internacionais”.
Também prometeu denunciar quaisquer vestígios de armas químicas à Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq), acrescentou.
- “Os ossos saíam da carne” -
Durante a ofensiva que começou em 27 de novembro, os rebeldes avançaram do seu reduto em Idlib para a capital.
Em sua passagem, libertaram detentos das prisões, revelando que os prisioneiros suportaram condições desumanas, tortura e celas subterrâneas, alguns durante décadas.
Milhares de pessoas buscam em penitenciárias de todo o país informações sobre familiares desaparecidos, na esperança de encontrá-los vivos.
O jornalista Mohammed Darwich, de 34 anos, retornou ao presídio administrado pelos serviços de inteligência em Damasco, onde esteve detido durante 120 dias.
Darwich relatou que os interrogatórios duravam o dia todo e que um jovem detento turco ficou “louco” com os espancamentos.
“Esta cela foi testemunha de muitas tragédias”, disse à AFP.
Mehmet Ertürk, preso sob a acusação de contrabando, também passou parte dos quase 20 anos em que esteve preso nesta penitenciária.
“Os ossos saíam da nossa carne quando batiam em nossos pulsos com um martelo”, diz este turco de 53 anos, que voltou ao seu país depois de ser libertado.
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