Os socorristas sírios buscam, nesta segunda-feira (9), por presos políticos na prisão de Saydnaya, um símbolo das atrocidades cometidas durante o regime de Bashar al Assad, enquanto residentes de Damasco comemoram a queda do governo após uma rápida ofensiva rebelde.

O presidente fugiu da Síria em meio à ofensiva relâmpago de uma coalizão de rebeldes liderada pela organização islamista Hayat Tahrir al Sham (HTS), que tomou a capital no domingo e pôs fim a mais de cinco décadas de governo da dinastia fundada por seu pai, Hafez al Assad. 

A Síria estava mergulhada na guerra civil desde 2011, quando o governo de Assad reprimiu duramente uma onda de protestos pacíficos, levando a um conflito que deixou 500 mil mortos e obrigou metade do país a fugir. 

Os Capacetes Brancos, uma rede de socorristas que atua em áreas controladas por rebeldes durante o conflito, informaram que estão procurando prisioneiros políticos em esconderijos e porões nas masmorras de Saydnaya. 

"Estamos trabalhando com todas as nossas forças para alcançar uma nova esperança e e devemos estar preparados para o pior", declarou em comunicado. 

Os rebeldes anunciaram no domingo, depois de terem chegado a Damasco, que haviam libertado todos os prisioneiros "detidos injustamente". 

O governo de Assad herdou de seu pai Hafez (1971-2000) um complexo prisional utilizado para reprimir qualquer dissidência em relação ao Partido Baath.

Nas redes sociais, sírios compartilham fotos de presos libertados para que se reunam com suas famílias. 

Fadwa Mahmud, que estava em cárcere, está ansiosa para reencontrar o marido e o filho. "Onde estão Maher e Abdelaziz? Já é hora de termos notícias deles", escreveu. 

O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), uma organização com sede no Reino Unido que monitora o conflito, estimou no domingo que pelo menos 910 pessoas, incluindo 138 civis, morreram desde o início da operação relâmpago dos rebeldes. 

Os insurgentes avançaram a partir de seu reduto em Idlib, em 27 de novembro, tomando Aleppo, Hama, Homs e, nas primeiras horas da manhã de domingo, entraram em Damasco. 

Segundo os especialistas, o governo de Assad não poderia manter-se sem o apoio de seus aliados, visto que a Rússia está concentrada na Ucrânia e o Irã e o movimento xiita libanês Hezbollah estão enfraquecidos pelos seus confrontos com Israel.

- "Esperei 14 anos por este momento" -

Após a suspensão do toque de recolher obrigatório imposto pelos rebeldes, os habitantes de Damasco reuniram-se na Praça Umayyad para festejar.

"É indescritível, não pensávamos que este pesadelo ia acabar", afirma Rim Ramadan, 49 anos, funcionário do Ministério das Finanças, que se deslocou para este local, onde muitos sírios agitavam a bandeira com três estrelas vermelhas, símbolo da oposição síria.

A guerra civil provocou a fuga de milhões de pessoas e, no posto fronteiriço de Cilvezogu com a Turquia, exilados comemoravam. 

"Esperei 14 anos por este momento, queria ser piloto, mas tive que deixar tudo", disse Hamad Mahmud, 34 anos, que viajou de Istambul, onde trabalhava em um restaurante. 

Nesta segunda-feira, o Kremlin recusou-se a confirmar as informações de que Assad teria fugido para a Rússia, depois que agências de notícias russas relataram, citando fontes governamentais, que o líder e sua família estavam em Moscou.

- "Proteger as minorias" -

Abu Mohammed al Kholani, líder da HTS, afirmou no domingo em um discurso na Mesquita dos Omíadas, em Damasco, que a "vitória" era um triunfo "para toda a comunidade islâmica". 

Nascido em 1982, o líder islamista nascido em 1982, distanciou-se de suas ligações anteriores a organizações como a Al Qaeda e, em entrevistas à imprensa ocidental, afirmou que "todo mundo passa por fases".

Durante este processo, Kholani deixou de usar o turbante e aparou a longa barba, optando por um estilo mais elegante e pelo vestuário militar ocidental. 

No entanto, o HTS continua sendo considerado um grupo "terrorista" pelos governos do Ocidente. 

O Conselho de Segurança da ONU fará uma reunião de caráter emergencial nesta segunda-feira, na sequência de um pedido da Rússia, o principal aliado de Assad. 

O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, afirmou na segunda-feira que a transição deve garantir que haja uma responsabilização" pelos crimes cometidos pelo governo de Assad e fez um apelo à proteção das minorias. 

A União Europeia considerou, por sua vez, imperativo que haja uma transição "pacífica e ordenada". 

O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, afirmou nesta segunda-feira o caráter "temporário" da ordem dada pelo governo ao exército para "tomar" uma zona tampão desmilitarizada nas Colinas de Golã, perto da fronteira com a área que pertencia à Síria e que foi anexada.

Mais tarde, Saar informou que a Força Aérea israelense bombardeou depósitos de "armas químicas" na Síria.

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