O presidente francês, Emmanuel Macron, nomeou, nesta sexta-feira (13), seu aliado centrista e político veterano François Bayrou, de 73 anos, como primeiro-ministro, com o desafio de reunir uma maioria parlamentar que impeça sua queda e agrave ainda mais a crise política.

"Ninguém conhece melhor do que eu a dificuldade da situação" política e orçamentária da França, disse, em seu primeiro discurso, Bayrou, que defendeu a "reconciliação" para superar a instabilidade política e encarar o "Himalaia" que tem "pela frente".

Presidente do centrista Movimento Democrático (MoDem), Bayrou se tornou o quarto primeiro-ministro de Macron em 2024, ao suceder o conservador Michel Barnier, também de 73 anos, que caiu em 4 de dezembro devido a uma moção de censura quando tentava aprovar o orçamento para 2025. Barnier ficou apenas três meses no cargo.

Embora a Presidência francesa tenha defendido Bayrou como o "candidato mais consensual" para "dialogar" com os demais partidos com vistas a uma "estabilidade" - exceto a extrema direita e a esquerda radical -, sua nomeação ficou no limbo horas antes.

Segundo uma pessoa próxima do presidente, Macron (centro direita) queria nomear um de seus aliados mais próximos, o ministro da Defesa, Sébastien Lecornu, mas, durante uma reunião pela manhã de quase duas horas, Bayrou, até então prefeito de Pau, no sudoeste da França, ameaçou romper com a aliança governista.

"Na longa história da Quinta República [iniciada em 1968], esta pode ter sido a primeira vez em que um primeiro-ministro elege a si próprio", afirmou Mutjaba Rahman, analista do Eurasia Group, para quem agora o novo premiê agora deverá se aproximar da esquerda para aprovar o orçamento.

- Que maioria? -

  

Não será fácil. Socialistas, comunistas e ecologistas, aliados do partido de esquerda radical A França Insubmissa (LFI) na Nova Frente Popular (NFP), se recusaram a entrar em um governo chefiado por Bayrou, apesar de terem aceitado discutir com a aliança de Macron e o partido de direita Os Republicanos (LR).

Os primeiros pediram, em vão, um primeiro-ministro de esquerda e uma mudança de rumo na política do governo, sobretudo após sua coalizão, que está à beira da ruptura, vencer as eleições legislativas.

"Ao nomear um de seus aliados (...), Macron se arrisca a agravar a crise política", alertaram os socialistas, pedindo que Bayrou se comprometa a não aprovar leis por decreto e a não depender da extrema direita, evitando, assim, a censura.

O LFI já anunciou que apresentará uma moção de censura contra o novo premiê, enquanto a extrema direita, que provocou a queda de seu antecessor, ao apoiar uma moção da NFP apesar de inicialmente ter se recusado a fazê-lo, disse que "a princípio" não o faria se ele acatasse suas demandas.

Em setembro, o LR abandonou a oposição e agora condicionou sua permanência no governo ao "projeto" do novo primeiro-ministro, que convocou, nesta sexta, o ministro do Interior, o polêmico Bruno Retailleau, para abordar as prioridades do partido conservador.

A composição do governo nos próximos dias e sua linha política serão estratégicas para sua sobrevivência. Por enquanto, o Executivo anterior apresentou uma "lei especial" para prorrogar o orçamento de 2024 e poder cobrar impostos.

- Processo judicial -

Um novo fracasso poderia agravar a crise política desatada por Macron em junho, com a antecipação inesperada das eleições legislativas de 2027, das quais saiu uma Assembleia Nacional (Câmara Baixa) sem maioria clara e dividida em três blocos: esquerda, centro direita e extrema direita.

Mas a pressão agora é maior. A segunda economia da União Europeia conta com altos níveis de déficit e dívida públicos para a zona do euro, e os orçamentos frustrados de Barnier previam uma forte diminuição dos gastos públicos para acalmar os mercados.

No entanto, a agência Moody's rebaixou, nesta sexta, a nota da dívida soberana da França para Aa3, com perspectiva estável, mencionando a "fragmentação política" no país após a nomeação de Bayrou.

Embora Macron possa convocar novas legislativas a partir de julho, todos os partidos já pensam nas eleições presidenciais de 2027, nas quais o presidente não poderá se candidatar, e buscam evitar ser vinculados ao projeto de um chefe de Estado impopular, mas sem parecer responsáveis pela instabilidade política.

Macron aposta agora em um velho conhecido da classe política. A consagração nacional de Bayrou veio com sua nomeação, em 1993, como ministro da Educação em um governo de direita, durante o mandato do presidente socialista François Mitterrand.

Desde então, ele exerceu mandatos como deputado, membro do Parlamento Europeu, prefeito e se candidatou em 2002, 2007 e 2012 às eleições presidenciais francesas, sem sucesso. 

No pleito de 2017, decidiu apoiar Macron, que emergiu do centro com um discurso reformista e a quem retribuiu nomeando-o como ministro da Justiça, cargo que ocupou por apenas 34 dias após uma investigação judicial sobre a contratação fraudulenta de assessores no Parlamento europeu.

Em fevereiro deste ano, a justiça condenou seu partido, MoDem, mas absolveu seu fundador, em nome do "benefício da dúvida". Embora o Ministério Público tenha recorrido da sentença, isto não impediu sua nomeação.

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