Gisèle Pelicot "não tem medo" que um ou vários homens condenados por estuprá-la após um grande julgamento na França apresentem recursos contra a condenação e provoquem um julgamento de apelação, afirmou nesta sexta-feira (20) seu advogado, Stéphane Babonneau.
"Ela não tem medo. Em outras palavras, se isto acontecesse, já nos disse que enfrentaria, se estiver bem de saúde, evidentemente, já que atualmente tem 72 anos", declarou Babonneau à rádio France Inter.
Na quinta-feira (19), o tribunal de Avignon, no sul da França, condenou 51 homens, incluindo seu ex-marido Dominique Pelicot, por drogá-la durante uma década para que provocar seu adormecimento e para estuprá-la ao lado de dezenas de desconhecidos.
A advogada de dois réus já anunciou que eles apresentarão recursos contra a sentença. A advogada do ex-marido, Béatrice Zavarro, também afirmou que examina a possibilidade de recorrer contra a pena imposta a seu cliente, de 20 anos de prisão.
Questionado sobre o estado de ânimo de sua cliente após o julgamento emblemático sobre as agressões sexuais contra as mulheres, Babonneau declarou que Pelicot "está muito feliz de voltar para casa e muito aliviada".
"Ela não quer ser vista como um ícone, como alguém extraordinária. Na verdade, é alguém que continua sendo muito simples e que decidiu tentar viver sua vida da forma mais normal possível", acrescentou.
"A última coisa que ela quer é que outras vítimas pensem que esta mulher tem uma força extraordinária", insistiu.
Gisèle Pelicot virou um ícone mundial da luta contra a violência sexual sofrida pelas mulheres por recusar um julgamento a portas fechadas, ao qual tinha direito como vítima, para "que a vergonha mude de lado".
Na quinta-feira, toda a classe política francesa e até mesmo líderes internacionais, como o chefe de Governo alemão Olaf Scholz e seu homólogo espanhol Pedro Sánchez, elogiaram sua "coragem".
"Obrigado Gisèle Pelicot (...) pelas mulheres que terão sempre (em você) uma pioneira para falar e lutar", escreveu na rede social X o presidente francês, Emmanuel Macron, que elogiou sua "dignidade" e "coragem".
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