O retorno de Donald Trump à Casa Branca e a incerteza em torno de suas políticas econômicas começaram a pesar sobre o Federal Reserve (Fed), levantando preocupações sobre possíveis confrontos entre o banco central dos Estados Unidos e o futuro presidente em relação às taxas de juros.  

O foco principal está na política tarifária anunciada por Trump, uma de suas principais propostas econômicas. O presidente eleito ameaça impor tarifas de até 20% sobre todos os produtos importados pelos Estados Unidos, e até mesmo de 60% a 100% sobre os provenientes da China.  

Segundo muitos especialistas, essa medida pode pressionar os preços e reacender a inflação, embora Trump discorde e afirme que tarifas alfandegárias "usadas de forma adequada" podem beneficiar a economia americana.  

"Nosso país agora perde para todo mundo", declarou Trump em uma coletiva de imprensa esta semana. "As tarifas vão enriquecer nosso país", acrescentou.  

O presidente do Fed, Jerome Powell, reconheceu na quarta-feira, após dois dias de reuniões de política monetária e o anúncio de um corte nas taxas básicas de juros, que o programa econômico de Trump - incluindo tarifas, cortes de impostos e deportações em massa - foi discutido pelo banco central.  

A possibilidade de tarifas mais altas, como impostos aduaneiros de 25% sobre produtos do México e do Canadá, parceiros dos EUA no Acordo EUA-México-Canadá (T-MEC), traz "incerteza sobre a inflação", disse Powell na quarta.

"Não sabemos quais produtos serão taxados, de quais países ou por quanto tempo. Não sabemos se haverá medidas retaliatórias nem como isso será transmitido aos preços ao consumidor", alertou.  

O Fed elevou significativamente sua projeção de inflação para o próximo ano, dos 2,1% previstos em setembro para 2,5%. Além disso, cortou 25 pontos-base nas taxas de juros de referência e reduziu sua expectativa de novos cortes para 2025, de quatro para apenas dois de 25 pontos-base cada.

A inflação nos Estados Unidos voltou a acelerar em novembro, atingindo 2,4% em 12 meses, em comparação com 2,3% em outubro, segundo o índice PCE divulgado pelo Departamento de Comércio. A meta de inflação do Fed é de 2% ao ano. 

- Objetivos divergentes -

"Tivemos a impressão de que o FOMC [o Comitê de Política Monetária do Fed] quis enviar uma mensagem tanto aos mercados quanto à próxima administração", afirmou Steve Englander, analista do Standard Chartered Bank.  

"Há poucas razões para ser pessimista” sobre a situação econômica, “mas eles optaram por serem. É difícil não ver isso como um sinal", insistiu.  

Powell destacou que alguns membros do Fed identificaram as turbulências políticas como um fator que contribui para a incerteza sobre a trajetória da inflação.  

Esse cenário ocorre em um momento em que as relações entre Powell e Trump se encontram tensas, apesar de Trump ter nomeado Powell para o cargo em seu mandato anterior. O republicano acusa o Fed de manipular as taxas de juros para beneficiar os democratas.  

O presidente eleito inclusive gostaria de ter influência direta sobre a política monetária, desafiando a independência do Fed.  

Powell, por sua vez, declarou que não pretende deixar seu cargo antes do final de seu mandato, em 2026.

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