As Cinzas do Império: O Crepúsculo Nazista
Sob a bandeira vermelha no Reichstag, Berlim caiu. O preço foi brutal: mortes, abusos e a cidade dividida entre vencedores e futuros inimigos
compartilhe
Siga noJÚLIO MOREIRA
A Batalha de Berlim marcou o capítulo final da Segunda Guerra Mundial na Europa. Lançada em 16 de abril de 1945 pelo Exército Vermelho, a ofensiva foi conduzida por mais de 2 milhões de soldados soviéticos organizados em 29 exércitos, apoiados por 3.155 tanques e 7.500 aeronaves. O cerco à capital alemã, planejado com rigor estratégico por Josef Stálin, visava esmagar o último bastião do nazismo e garantir o domínio soviético sobre a cidade antes da chegada dos Aliados ocidentais.
Apesar da proximidade com Berlim desde fevereiro daquele ano, a investida final foi adiada por Stálin, que priorizou a eliminação de forças alemãs remanescentes em cidades como Königsberg, Breslau, Poznan e na fortaleza de Küstrin. Em paralelo, o Grupo de Exércitos Vístula, sob comando de Heinrich Himmler e depois de Gotthard Heinrici, tentava organizar uma defesa desesperada.
O assalto à cidade começou pela linha das colinas de Seelow, onde o marechal Gueórgui Jukov, líder do 1º Grupo de Exércitos Bielorrusso, enfrentou feroz resistência alemã. Os combates se prolongaram até que, no dia 20, as forças soviéticas lideradas por Vassíli Tchuikov alcançaram os subúrbios orientais da capital e iniciaram o bombardeio do centro urbano. No sul, o marechal Ivan Kóniev, comandante do 1º Grupo de Exércitos Ucraniano, avançava rapidamente, disputando com Jukov a glória de capturar Berlim.
No dia 25 de abril, as tropas de Jukov cruzaram o rio Spree, enquanto Kóniev e Tchuikov apertavam o cerco. No dia 29, o Tiergarten foi atacado e, no dia seguinte, o Reichstag foi finalmente tomado pelos soviéticos. A resistência alemã entrou em colapso após o suicídio de Adolf Hitler, em 30 de abril.
Dois dias depois, em 2 de maio, o general Helmuth Weidling, último comandante da defesa da cidade, assinou a rendição. A ordem foi transmitida por alto-falantes, encerrando oficialmente os combates. Ainda assim, focos isolados de resistência persistiram até o final do dia.
A batalha, no entanto, cobrou um alto preço: cerca de 78 mil soldados soviéticos morreram durante a ofensiva. Estima-se que o número de baixas alemãs tenha ultrapassado as centenas de milhares. No total, entre 16 de abril e 2 de maio, o Exército Vermelho registrou 304.887 perdas entre mortos, feridos e desaparecidos. Cerca de 480 mil prisioneiros foram capturados, dos quais 70 mil apenas em Berlim.
O colapso do Terceiro Reich foi acompanhado por cenas de terror e brutalidade. Registros históricos indicam que até 100 mil mulheres foram estupradas em Berlim — parte de uma onda de abusos sexuais cometidos por soldados soviéticos em toda a Alemanha. O número de suicídios disparou na cidade. Civis, soldados e prisioneiros foram levados a campos de detenção, como as minas de Rüdersdorf e o aeroporto de Tempelhof, antes de serem enviados à União Soviética.

Berlim, devastada por anos de guerra, estava em ruínas: 600 mil apartamentos destruídos, ouro e prata saqueados do Reichsbank e uma população civil física e moralmente dilacerada. A cidade, dividida entre vencedores, tornou-se símbolo da nova ordem mundial que se desenhava.
Em 8 de maio, representantes da União Soviética, Estados Unidos, Reino Unido e França se reuniriam em Karlshorst para formalizar a rendição incondicional da Alemanha. Era o fim oficial da guerra na Europa — e o início da Guerra Fria.

Com a bandeira vermelha tremulando sobre o Reichstag — eternizada na célebre fotografia — e as tropas soviéticas ocupando as ruas devastadas de Berlim, a vitória da União Soviética se consolidava de forma incontestável. A presença de Moscou na Europa Oriental tornava-se um fato consumado, ao mesmo tempo em que se projetava sobre a capital alemã uma sombra duradoura: a da divisão, da ocupação e da rivalidade entre potências que, até então, haviam combatido em aliança. Diante disso, cabe a pergunta sobre a imagem de Khaldei: estaríamos diante de um documento histórico autêntico ou de uma versão idealizada, moldada para atender aos interesses de um Estado vitorioso?Nas páginas seguintes, os bastidores dessa fotografia e os significados que ela carrega — para além do que mostra.
A estratégia soviética para tomar berlim
Planejamento meticuloso: Stálin mobilizou três frentes de exércitos para cercar totalmente Berlim.
Avanço em múltiplas frentes:
Jukov (1º Exército Bielorrusso) atacou pelo leste via Seelow.
Kóniev (1º Ucraniano) avançou pelo sul.
Rokossóvski (2º Bielorrusso) cobriu o norte contra reforços alemães.
Supremacia numérica e de armamentos:
2 milhões de soldados
3.155 tanques
7.500 aeronaves
Superioridade absoluta frente a uma força alemã exausta e mal equipada.
Ruptura da linha de Seelow:
Após três dias de combate pesado, as defesas alemãs foram vencidas, abrindo
caminho para o centro de Berlim.
Competição interna estimulada por Stálin:
A rivalidade entre Jukov e Kóniev acelerou os ataques e desorganizou as defesas inimigas.
Avanço coordenado em vários eixos:
Os exércitos se encontraram dentro da cidade, isolando os focos de resistência alemã.
Uso maciço de artilharia e táticas urbanas:
Bombardeios pesados abriram caminho para a infantaria. Ruas e prédios eram tomados à força.
Colapso do comando alemão:
Suicídio de Hitler (30 de abril)
Rendimento de Weidling (2 de maio)
Sem liderança, a resistência ruiu rapidamente.