Tecnologia impacta o ensino de medicina no Brasil -  (crédito: DINO)

Tecnologia impacta o ensino de medicina no Brasil

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Em maio, a Comissão de Educação e Cultura e a Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado promoveram um debate da audiência pública conjunta sobre os desafios do ensino médico no Brasil. Entre as pautas, foram discutidos “o aumento no número de escolas médicas”, “a qualidade do ensino”, “a atuação interprofissional na competência médica” e “o papel da tecnologia na área”.

De 2010 a 2024, o número de cursos de medicina quase dobrou no Brasil, passando de 208 para 389, conforme informações publicadas pelo site da Rádio Senado. Durante o debate, a presidente da Academia Nacional de Medicina, Eliete Bouskela, chamou a atenção para a importância da qualidade na formação de médicos, que deve ir além da quantidade.

Ainda de acordo com a publicação, Lívia Barbosa, representante do Ministério da Saúde, ressaltou que a média da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) é de 3,7 médicos para cada mil habitantes. O Brasil possui 2,6 médicos por mil habitantes, em um contexto em que esses profissionais de saúde ainda estão distribuídos de forma desigual. 

Rafael Zampar, professor do curso de medicina do Integrado, destaca que o Brasil está passando por profundas mudanças no cenário da medicina, tanto para os profissionais quanto para os estudantes.

“Primeiro, porque nós temos uma ampliação desde 2014, com o programa Mais Médicos, da oferta de vagas de medicina. Então, as primeiras turmas que ingressaram a partir do programa Mais Médicos já estão no mercado de trabalho, atuando e, portanto, aumentando o número de profissionais médicos e a concorrência”.

Zampar destaca que o país vivencia, agora, a “segunda onda” do programa, ampliando ainda mais as vagas - o que traz uma mudança no mercado educacional da medicina, já que há mais vagas.

“Como resultado desse fenômeno, há a possibilidade de redução na concorrência nas universidades privadas, mas que não muda para as universidades públicas nesse primeiro momento, já que o acesso para a universidade privada demanda uma capacidade financeira elevada para bancar o curso”. 

Tecnologia deve integrar cursos de medicina

Zampar ressalta que a tecnologia tem transformado várias áreas, e na medicina não seria diferente. “A tecnologia sempre foi muito utilizada na medicina e, hoje, vemos muitos médicos acompanhando cirurgias de alta complexidade à distância, operando robôs que fazem cirurgias e utilizando a telemedicina para fazer atendimentos”, explica.

“Essa é uma tendência que não volta. Então, o profissional de medicina deve investir em atualização constante com relação à tecnologia”, afirma.

Segundo Zampar, hoje é possível observar uma mudança no perfil do estudante de medicina. “Antes, por ter uma menor quantidade de vagas ofertadas - principalmente nas universidades privadas -, a concorrência era maior, como ainda é nas universidades públicas. Hoje, vemos uma menor concorrência, a entrada de estudantes mais jovens, com menos tempo de cursinho e, portanto, também com uma menor preparação”, pontua.

Diante disso, prossegue, alguns estudantes não chegam à universidade preparados e precisam de mais desenvolvimento. “Além disso, eles [estudantes] são de uma geração muito diferente. Então, o futuro professor, ou em início de carreira, deve se conectar com essa geração para que a conexão, principalmente do campo emocional, contribua para a dedicação a uma melhor formação”, explica.

O professor do curso de medicina do Integrado observa que a geração atual de estudantes parece estar mais conectada e antenada em informações.

Apesar disso, é preciso tomar cuidado para não confundir os chamados nativos digitais com os “letrados digitalmente”: “O nativo digital tem muita facilidade de acesso a redes sociais, mas não possui senso crítico, até pela idade. Por isso, muitos estudantes que ingressam no curso de medicina ainda não têm o devido senso crítico para julgar a qualidade das informações que estão acessando”.

Para Zampar, essa é uma oportunidade para o professor, que pode aproveitar a tecnologia que o aluno tem acesso, seja de ferramentas, seja de IA (Inteligência Artificial), para desenvolver o seu senso crítico. 

Ele observa que, em um cenário em que muito se fala sobre IA e a integração de tecnologias na medicina, na prática, as novas tecnologias ainda fazem parte do dia a dia dos alunos de uma forma “rasa”.

“[A tecnologia] Não tem um uso correto, porque os professores ainda têm dificuldade de utilizar”, afirma. “Então, cabe aos professores conhecerem o potencial para, a partir disso, desenvolver o senso crítico dos alunos para a utilização dessas ferramentas”, complementa.

Prática também é importante

Zampar observa que muitos professores também atuam em clínicas e hospitais em suas rotinas, realidade que traz à tona uma série de desafios entre a docência e o processo de clinicar.

“Apesar disso, é fundamental para um curso de medicina que os profissionais médicos tenham experiência na clínica. Porque é justamente essa experiência na clínica, no hospital e na cirurgia, que vai trazer a realidade do dia a dia para o aluno, para que este não viva apenas a realidade simulada, que é a graduação”, afirma.

O professor do curso de medicina do Integrado destaca que esse é um elemento importante, principalmente nos anos iniciais, para que os estudantes possam ouvir daquele que está no dia a dia na atuação da clínica “o que é a realidade da profissão” e se preparar para essa vivência. “É fundamental que a gente tenha professores com esse perfil. É claro que isso gera um desafio para o profissional médico, que vai precisar demandar um tempo de dedicação para se preparar para o ato de educar”.

Para Zampar, as tecnologias têm o potencial de apoiar médicos e professores no ato de fazer a sua prática docente. “Esse profissional tem que se conectar e buscar, cada vez mais, o acesso às tecnologias para apoiá-lo em seu processo docente”, conclui.

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