A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que 40% da população global não tem acesso seguro à água potável e mais da metade do mundo não tem serviços de saneamento eficientes. Ainda segundo a entidade, 46% da população global vive sem acesso a saneamento básico, sendo mais de um bilhão de pessoas que ainda não tem acesso a um banheiro.  

O Brasil gasta atualmente cerca de R$ 22,5 bilhões em saneamento, o que é considerado insuficiente para alcançar a universalização do serviço. Para atingir a meta, o país precisaria investir mais de R$ 551 bilhões até 2033, ou seja, mais do que dobrar o valor investido nos últimos cinco anos.

A precariedade da infraestrutura sanitária deve comprometer o desenvolvimento das próximas gerações, segundo o estudo "Futuro em risco: os impactos da falta de saneamento para grávidas, crianças e adolescentes", recém-divulgado pelo Instituto Trata Brasil, em parceria com a consultoria EX ANTE. O levantamento revela que quatro em cada 10 crianças brasileiras de até seis anos se afastam de creches, escolas e atividades sociais por falta de saneamento básico. Em números absolutos, são 6,6 milhões de pequenos brasileiros que interrompem seu desenvolvimento por não terem água tratada ou banheiro.

De acordo com o estudo, dentre as consequências estão o fato de crianças de até 11 anos terem dificuldade em identificar as horas num relógio ou calcular o troco. Há atraso médio de 1,8 anos de escolaridade ao jovem de 19 anos que não tem acesso a saneamento e 46,1% é a diferença de renda ao longo da vida de um jovem que teve acesso ao saneamento durante sua infância e adolescência.

"Na prática, estamos condenando boa parte das nossas crianças a uma vida precária no futuro, sem perspectivas", alerta o vice-presidente do Conselho Administrativo da Asperbras Brasil, Francisco Carlos Jorge Colnaghi. "Toda vida no planeta começa com a água e não tratar dela para as presentes e futuras gerações é impedir a evolução da nossa sociedade", complementa.

O levantamento aponta o forte impacto do tema em todas essas fases da vida, levando a riscos de saúde e a um desenvolvimento prejudicado, do ponto de vista físico e cognitivo. "O saneamento básico precário ou a falta dele, de acordo com o estudo, gera notas mais baixas em todas as fases escolares e a um potencial de renda menor, que pode, considerando 35 anos de atuação profissional, chegar a uma diferença de mais de R$ 126 mil entre as pessoas que contaram e as que não contaram com o serviço", ressalta Francisco Carlos Jorge Colnaghi, mostrando dados do levantamento.

Um exemplo prático apontado no documento é que tal cenário reduz, por exemplo, a capacidade de uma pessoa comprar ou não uma casa própria ao longo da vida adulta, por conta de seu comprometimento de renda. Com nível educacional menor, será mais difícil encontrar emprego e, encontrando uma oportunidade, o estudo mostra que haverá uma diferença de remuneração associada à sua menor capacidade para o desempenho de tarefas e trabalhos que exigem maior qualificação.

"Os dados revelam que o diferencial de renda tem uma leitura direta: se for dado acesso à coleta de esgoto a um trabalhador que mora em uma área sem acesso a esse serviço, espera-se que a melhora geral de sua qualidade de vida, com diminuição do número de dias afastado do trabalho, por exemplo”, comenta Francisco Carlos Jorge Colnaghi".

Outro dado que chama a atenção é o fato de, em locais sem infraestrutura, a população tende a maior incidência das chamadas doenças de veiculação hídricas, como a dengue, cólera, diarreia etc., ou seja, enfermidades causadas por água parada e/ou contaminada. Outras modalidades de doenças que também são mais frequentes em locais sem saneamento básico são as doenças respiratórias, como gripe, covid e as doenças bucais.

“O próprio nome já diz: básico. Se os investimentos públicos não aumentarem nas próximas décadas, estamos levando as próximas gerações de brasileiros a um futuro sem perspectiva, o que, na prática, é comprometer nosso desenvolvimento", conclui o Colnaghi.



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