O relatório do Global Mind Project, que divulga dados anuais sobre o bem-estar no planeta, mostra que o Brasil, ao lado da África do Sul e do Reino Unido, ocupa a última posição no ranking, com as piores pontuações. O documento foi elaborado a partir de pesquisas feitas com 420 mil pessoas, em 71 países e em 13 idiomas, e usou um quociente de saúde mental que avalia capacidades cognitivas e emocionais, incluindo a habilidade de lidar com o estresse e de funcionar de forma produtiva. De todos os entrevistados, 38% se sentem “melhorando” e 27% estão “angustiados” e “se debatendo”. No Brasil, a proporção dos angustiados é maior (34%). Jovens com menos de 35 anos são os mais afetados.

Especialistas do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) explicam que problemas relacionados à depressão, ansiedade e doenças mentais de modo geral trazem consequências que impactam a saúde bucal. O presidente da Câmara Técnica de Periodontia do CROSP, Dr. Marcelo Cavenague, relata que existem vários níveis de transtornos mentais, desde estresse, passando por ansiedade, depressão e até situações mais graves como esquizofrenia. Apesar dessas diferenças, em todos esses contextos, o paciente acaba tendo menos foco na saúde bucal, além do impacto que certas medicações podem ter.

“A depressão é um exemplo típico do paciente que deixa de dar atenção às suas necessidades básicas por conta de seu transtorno. O paciente depressivo muitas vezes deixa de tomar banho ou se alimentar regularmente, tem dificuldade em sair de casa ou realizar as tarefas comuns do dia a dia. O paciente depressivo dificilmente terá condições de dar a devida atenção à sua higiene bucal, necessitando um acompanhamento mais próximo do cirurgião-dentista”, alerta o Dr. Marcelo Cavenague.

O profissional explica que os pacientes com transtornos mentais podem ter quadros de cárie, visto que a higienização fica comprometida em decorrência do estado emocional do indivíduo, além das medicações que diminuem o fluxo salivar, desregulando o pH bucal.

Transtornos alimentares também podem implicar na piora da saúde bucal. Anorexia, bulimia e compulsão alimentar colocam o paciente em situações de risco. "A anorexia faz com que a pessoa tenha resposta imunológica muito baixa; já a bulimia provoca acidez bucal, o que pode gerar erosão ácida na região palatina dos dentes anteriores superiores pelo contato com ácido estomacal. No caso de compulsão alimentar, corre o risco de ter cárie, pois o paciente tem o hábito de comer a todo momento, o que o leva a uma constante alteração de pH", esclarece o Dr. Marcelo Cavenague.

O bruxismo é outra condição que pode afetar quem tem doenças e transtornos mentais. A integrante da Câmara Técnica de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial do CROSP, Dra. Katia Akemi Uezu, explica que o bruxismo é autorrelatado (ou relatado por alguém próximo) ao ser notado o apertamento ou ranger dos dentes, das contrações involuntárias dos músculos da mastigação e/ou movimentos parafuncionais da boca.

A profissional ressalta que as medicações prescritas para o tratamento das doenças e dos transtornos mentais também podem levar à ocorrência ou piora do bruxismo. “O tratamento é realizado por profissionais capacitados e é multidisciplinar, interdisciplinar e multiprofissional. As consultas desses pacientes não devem ser muito longas para não afetar a sua condição geral. A escuta e o acolhimento são importantes, além da orientação e educação quanto à relação e o impacto dessas condições na saúde oral”, orienta a especialista sobre a conduta a ser tomada.

De acordo com a Dra. Katia Akemi Uezu, as medicações prescritas para as doenças e transtornos mentais podem causar reações adversas na cavidade oral e na ocorrência ou piora do bruxismo. "O bruxismo pode desgastar e trincar os dentes, causar disfunção temporomandibular e dor nos músculos da mastigação, lesões em mucosas por mordedura, entre outras consequências", reforça.

Para o CROSP, em todos os contextos, o papel do cirurgião-dentista é de extrema importância no acolhimento e análise clínica do histórico do paciente, a fim de orientá-lo a seguir o melhor tratamento para a resolução/manejo dos impactos causados na saúde bucal da pessoa com doenças ou transtornos mentais.





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