Inclusão e confiança são aliados de líderes no desafio da IA -  (crédito: DINO)

Inclusão e confiança são aliados de líderes no desafio da IA

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A inteligência artificial (IA) está transformando o mercado de trabalho em um ritmo acelerado. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), cerca de 45% da força de trabalho brasileira está exposta à IA, sendo que 30% dos empregos correm risco de substituição pelas novas tecnologias. Essa porcentagem supera a média de outras economias emergentes fora da América Latina, refletindo o impacto desproporcional da automação no Brasil.

Na análise de especialistas, a crescente adoção da IA exige que empresas revisitem suas estratégias de liderança e cultura organizacional. Eles apontam que temas como segurança psicológica, diversidade e inclusão deixaram de ser conceitos abstratos para se consolidarem como práticas indispensáveis, enquanto líderes que promovem ambientes plurais e confiáveis têm mais chances de prosperar nesse cenário e transformar desafios tecnológicos em oportunidades.

Como líderes constroem confiança no trabalho

"Segurança psicológica é o estado em que as pessoas se sentem à vontade para inovar, questionar e até cometer erros sem medo de represálias", explica Rafael Nunes, psicólogo, mestre em neurociências e especialista em comportamento humano. Ele destaca que ambientes de trabalho com essas características influenciam funções cerebrais importantes. 

"Do ponto de vista da neurociência, a segurança psicológica está ligada à redução da ativação do sistema de ameaça no cérebro, que envolve estruturas como a amígdala, e à promoção de um ambiente que estimula o córtex pré-frontal, responsável pela tomada de decisão, criatividade e colaboração."

Essa dinâmica se torna ainda mais relevante em um cenário de adoção tecnológica acelerada. Um estudo da Access Partnership em parceria com a AWS revela que 97% dos empregadores brasileiros planejam implementar soluções de IA até 2028. "O medo da substituição por máquinas é real e ativa respostas emocionais que comprometem a produtividade", observa Rafael. 

Ele argumenta que, para enfrentar essas questões, líderes precisam comunicar de forma transparente como a tecnologia pode complementar, e não substituir, o trabalho humano. "Criar um ambiente que valorize o aprendizado contínuo é essencial para reduzir o receio de não acompanhar as mudanças e fortalecer a adaptabilidade das equipes."

Rafael também ressalta os pilares que devem guiar a gestão da mudança nesse contexto: comunicação transparente, capacitação contínua e engajamento. "É necessário explicar de forma clara os objetivos e benefícios da IA, oferecer desenvolvimento de competências para lidar com a tecnologia e criar espaços para ouvir as preocupações das equipes. Esses pilares reduzem incertezas e fortalecem a confiança, criando um ambiente colaborativo e adaptável", pontua.

Diversidade reduz desigualdades na inteligência artificial

Estudos mostram que a IA não impacta todos os grupos da mesma forma. De acordo com o FMI, mulheres estão mais expostas à IA no trabalho, mas também melhor posicionadas para aproveitar seus benefícios. Já os trabalhadores mais velhos enfrentam maior dificuldade em se adaptar às novas tecnologias. Esses números revelam como as novas ferramentas digitais podem ampliar desigualdades existentes, tornando essencial a presença de diferentes olhares em seu desenvolvimento e treinamento.

"A IA, como todas as outras ferramentas, é uma tecnologia criada por seres humanos e reflete nossas escolhas", afirma a psicóloga Vitor Martins, líder de cultura organizacional e especialista em diversidade e inclusão com passagens por Nubank e Swap Financial. Segundo ela, essas escolhas determinam o efeito que a tecnologia terá no mercado de trabalho e na sociedade. "Sem uma perspectiva de diversidade e inclusão, seu impacto, em vez de ser positivo, provavelmente será negativo", alerta.

Ela também destaca como a IA pode ser uma aliada na redução de preconceitos inconscientes, desde que pessoas de diferentes origens sejam incluídas nos processos de desenvolvimento. "Os vieses surgem, sobretudo, quando não há a participação de pessoas diferentes entre si. A eliminação dos vieses ocorre quando esse tema é discutido e abordado ativamente no desenvolvimento de tecnologias", explica.

Vitor ressalta que a falta de diversidade nas equipes responsáveis por treinar a IA pode gerar consequências graves. "Isso acontece, por exemplo, quando uma campanha é lançada e recebe críticas por conter elementos racistas, revelando a falta de diversidade racial no time que a idealizou", explica. "Esses vieses, no entanto, podem ser superados com o uso consciente da inteligência artificial, desde que ela seja projetada para identificar e mitigar essas falhas."

Inteligência artificial e o futuro da liderança

A inteligência artificial não é só uma revolução tecnológica, mas uma transformação cultural que exige novas habilidades de gestão. "Liderar em tempos de IA significa criar ambientes seguros e capacitar equipes para lidar com a mudança", enfatiza Rafael Nunes. Para ele, práticas como escuta ativa, comunicação clara e um ritmo gradual de implementação são indispensáveis para garantir confiança e engajamento.

Outro ponto essencial, na visão de Rafael, é a humanização no uso da tecnologia, especialmente em tempos de sobrecarga de informações. "Nosso cérebro, com recursos limitados, evoluiu para lidar com contextos mais simples. Hoje, enfrentamos uma sobrecarga de informações que gera cansaço mental e dificulta a priorização. A IA pode ser uma ferramenta poderosa para aliviar essa carga, mas é preciso usá-la de forma consciente para proteger o bem-estar dos colaboradores", reflete.

Vitor Martins reforça a importância da pluralidade como outro alicerce para líderes prosperarem em um futuro marcado pela presença da IA. "Equipes diversas desempenham um papel essencial ao incorporar perspectivas de diferentes identidades raciais, gêneros e grupos sociais no processo de construção tecnológica", ela enfatiza. "Assim, a inteligência artificial pode se tornar uma aliada na construção de um futuro mais inclusivo."