Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelam informações alarmantes sobre o crescimento da violência na Amazônia Legal. Segundo o estudo Cartografias da violência na Amazônia, divulgado ontem, existem pelo menos 22 facções criminosas na região, presentes em todos os nove estados amazônicos.
O Fórum mapeou a presença de facções em 178 das 772 cidades da Amazônia Legal (24,6%), sendo quase um a cada quatro municípios. Em 80 delas, também há disputa entre os grupos criminosos. A presença do crime organizado impacta na violência e no tráfico de drogas na região.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Amazônia Legal é dividida em duas partes: Ocidental e Oriental. A primeira é composta pelos estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima. Já a segunda, por Pará, parte do Maranhão, Amapá, Tocantins e Mato Grosso.
O estudo detectou que os estados da região registraram uma taxa de 33,8 mortes intencionais a cada 100 mil habitantes em 2022 — sendo 45% maior do que o resto do país, que contabilizou, no mesmo ano, taxa de 23,3 vítimas para cada grupo de 100 mil.
As capitais da região que têm conflito entre facções são: Manaus (AM), Porto Velho (RO), Macapá (AP), Rio Branco (AC) e Palmas (TO). Entre as organizações estão aquelas com presença nacional, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV). Também há grupos criminosos locais, como a Família do Norte (FDN), e estrangeiros — vindos do Peru, da Venezuela e da Colômbia.
Onda crescente
Em 2021, o índice de mortes violentas intencionais na Amazônia Legal era de 34,4. A taxa de mortes por 100 mil habitantes permite comparar municípios de diferentes tamanhos. O estado com maior registro de violência é o Amapá, com 50,6 mortes para cada 100 mil. Depois, aparecem Amazonas (38,8), Pará (36,9), Rondônia (34,3), Tocantins (30,5), Roraima (30,5), Mato Grosso (29,3), Acre (28,6) e Maranhão (28,5).
Outros dados também chamam atenção como, por exemplo, os números de violência contra a mulher. O Fórum identificou que a taxa de feminicídio na Amazônia foi de 1,8 para cada 100 mil mulheres, 30,8% superior à média nacional, que foi de 1,4 por 100 mil. A violência sexual é outro item que se diferencia do resto do país. Nos nove estados, a pontuação de estupros na região foi de 49,4 vítimas para cada 100 mil no ano passado — 33,8% superior ao índice nacional, que foi de 36,9 por 100 mil.
A pesquisa revelou ainda que a mortalidade de indígenas na Amazônia é 26% maior do que no restante do país: morreram 114 pessoas contra 86 nos outros 17 estados e no Distrito Federal. A população de povos originários na Amazônia Legal é de 867 mil pessoas. No restante do país: 825 mil.
Outros crimes
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública detectou que os crimes vinculados ao desmatamento cresceram 85,3% entre 2018 e 2022. No último ano, foram 619 boletins nas polícias civis dos estados da Amazônia Legal. Os dados referentes a incêndios criminosos na Amazônia Legal também aumentaram: 51,3% em quatro anos.
Segundo o levantamento, a taxa de pessoas no sistema prisional na região cresceu 67,3%, em 10 anos, enquanto a média nacional foi de 43,3% de aumento. Entre 2019 e 2022, a elevação dos registros de armas de fogo foi de 91%, ao passo que no restante do país ficou em 47,5%. Entre 2019 e 2022, a apreensão de cocaína pelas polícias estaduais na Amazônia cresceu 194,1%. Já a Polícia Federal apreendeu 32 toneladas de cocaína em 2022, crescimento de 184,4% em comparação a 2019.