Em mais um capítulo do maior desastre ambiental urbano em curso no país, os moradores da cidade de Maceió enfrentaram novos tremores de terra na manhã deste sábado (2/12) e vivem a expectativa de colapso de 1 das 35 minas de exploração de sal-gema de Braskem.
A velocidade de afundamento do solo da mina, que fica no bairro do Mutange, caiu ao longo das últimas 24 horas. De acordo com a prefeitura de Maceió, a velocidade de afundamento do solo caiu de 5 para 0,7 centímetros por hora, cenário que fez postergar o provável colapso da mina.
"Temos uma tendência de diminuição de afundamento naquela região. [...] Não podemos afirmar que vai estabilizar, mas esse é o caminho para a estabilização. Estamos vivendo um dia de cada vez", afirmou o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas. O entorno da mina foi isolado e os moradores de 23 imóveis que permaneciam dentro das áreas de risco em Maceió foram realocados pela Defesa Civil por determinação judicial. Desta forma, aponta a Braskem, 100% dos imóveis que ficam dentro das áreas delimitadas pelos mapas de risco foram desocupados.
Os dados de monitoramento demonstram que a acomodação do solo segue concentrada na área dessa mina e poderá se desenvolver de duas maneiras: um cenário é o de acomodação gradual até a estabilização, o outro é uma possível acomodação abrupta do solo.
Coordenador da Defesa Civil de Alagoas, o coronel Moisés Melo, afirmou em entrevista à CNN Brasil que o dano provocado pelo colapso da mina não será tão grande quanto o esperado.
"Acreditamos que vai surgir a cratera. Essa cratera será preenchida pela água da Lagoa Mundaú. Mas não vai ser uma cratera no meio da cidade, não vai gerar terremoto, tsunami, nada disso", afirmou Melo.
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A Defesa Civil de Maceió afirmou que houve um novo tremor de terra de magnitude 0,89 neste sábado, o que mantém o risco iminente do colapso da mina.
O abalo sísmico foi ainda mais forte que o registrado na noite de sexta (1º), que teve magnitude 0,39. Desta vez, o órgão diz que o evento ocorreu a 300 metros de profundidade.
Professor aposentado da Universidade Federal de Alagoas, o engenheiro Abel Galindo afirma que o desabamento não deve acontecer de forma abrupta e que a terra vai assentando por camadas. Por isso, afirma o prefessor, não há motivo para pânico entre os moradores da capital alagoana.
"Os bairros vizinhos da mina não vão sofrer nada além dos tremores. Não vai acontecer nenhuma tragédia", argumenta Galindo. Ele também diz que não há previsão de um impacto imediato do colapso nas demais minas de sal-gema que eram exploradas pela Braskem.
A Defesa Civil municipal permanece em alerta máximo. Por precaução, está mantida a recomendação para que a população evite transitar na área desocupada até uma nova atualização.
O sinal de alerta foi aceso na última quarta-feira (29/11), quando Defesa Civil de Maceió alertou que uma mina da Braskem estava em risco iminente de colapso. A população que mora próximo à área atingida foi orientada a deixar o local e procurar abrigo, e a prefeitura decretou estado de emergência por 180 dias.
Os primeiros alertas sobre os danos no solo aconteceram em meio de tremores de terra no dia 3 de março de 2018. O abalo sísmico fez ceder trechos de asfalto e causou rachaduras no piso e paredes de imóveis, atingindo cerca de 14,5 mil casas, apartamentos e estabelecimentos comerciais nos bairros Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom Parto e Farol.
Depois de 14 meses de estudos, o Serviço Geológico do Brasil, órgão do governo federal, concluiu que as atividades de mineração da Braskem em área de falha geológica causaram os afundamentos.
A Braskem teve em Maceió 35 poços de extração de sal-gema, material usado para produzir PVC e soda cáustica. A exploração do minério começou em 1979 e se manteve até maio de 2019, quando foi suspensa um dia após a divulgação do laudo pelo Serviço Geológico.
A atividade de mineração deixou um rastro de impactos geológicos e ambientais que ainda estão em curso - não estão descartados novos tremores e afundamentos no futuro.
O risco de desabamento da mina também resultou em um embate político entre o governo Lula (PT) e o grupo do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
Lira e seus aliados, incluindo JHC, lançaram uma ofensiva para tentar incluir o governo federal na conta das medidas de atendimento aos moradores que precisaram deixar as suas casas. O governo Lula, por sua vez, defende nos bastidores que as questões relativas às indenizações e auxílio para moradia para a população atingida dizem respeito exclusivamente à empresa e ao município.
O embate evidencia também uma disputa entre o grupo de Lira e o grupo do senador Renan Calheiros (MDB-AL) - os dois são adversários políticos no estado. Renan é pai do senador e atual ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB-AL) e aliado do governador Paulo Dantas (MDB).
Neste sábado, Renan Calheiros criticou o acordo firmado em julho entre a prefeitura de Maceió e a Braskem que prevê o pagamento de R$ 1,7 bilhão da mineradora para o município. Em postagem em uma rede social, ele comparou o acordo a uma anistia à mineradora.
O prefeito JHC falou em união e disse que é urgente desarmar os palanques eleitorais: "A prioridade são os cuidados com a população da cidade. Vamos lutar pela punição dos responsáveis, entre a Braskem e os que autorizaram isso."